quinta-feira, 20 de outubro de 2011

13 & God - Own Your Ghost


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Obra singular e maior do que a soma das partes.

Para enquadrar a heterogeneidade musical presente num álbum onde parecem coabitar vários discos torna-se necessário (re)lembrar que este projecto – que resgata o seu nome ao conceito dos doze apóstolos mais Jesus Cristo, um grupo de 13 membros que forma uma relação simbiótica com Deus – resulta de uma parceria entre membros dos norte-americanos Themselves (que fazem hip hop underground) e dos alemães The Notwist, que se movem nos territórios do electro-pop experimental.
Se tal não servir para ultrapassar alguma da estranheza que advém da improvável conjugação de elementos – exemplo: o registo melodioso de Markus Archer com a voz nasalada (por vezes mais parece insuflada a hélio) de Adam “Doseone” Drucker – ajudará, pelo menos, a compreender melhor este conjunto de músicas que em certas ocasiões começam de uma forma quase linear para irem ganhando camadas de elementos e complexidade. Um dos casos mais flagrantes desta dicotomia será “Armored Scarves”, que começa nas calmas mas vai crescendo, crescendo, com Archer a insistir que «These are troubled times and so / So you dip your scarves in iron» e a percussão a marcar um ritmo de marcha militar, antes de “Doseone” entrar em cena e disparar num flow que se cruza com outras vozes. “Beat On Us” também se introduz na linha daquela para depois cruzar folk e electrónica. Embora predominem sonoridades densas – na linha de “Unyoung”, construída sobre um forte beat e vozes sobrepostas em camadas sonoras hipnóticas, ou o quase trip hop de “Et Tu” – há lugar para temas com uma estrutura mais leve, como a soalheira “Old Age”, a puxar para a pista de dança, ou a atmosférica “Death Minor”, que remete para o lado mais etéreo dos Air.
Quem sofrer de paranóia com rótulos vai sentir-se perdido num labirinto de referências e sonoridades que podem parecer inconciliáveis; mas quem tiver abertura suficiente para montar as peças nos ouvidos e no espírito vai apreciar este puzzle, que se pode montar, baralhar e voltar a juntar audição após audição, processo ao longo do qual a riqueza suplanta a desconfiança e o pendor existencialista das letras se vai tornando mais e mais perceptível.

Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

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