domingo, 25 de setembro de 2011

PAUS - crescer em palco para gravar no estúdio

É um dos nossos discos mais esperados do ano, por isso é com especial prazer que avançamos alguns pormenores sobre o LP de estreia dos PAUS pela boca dum dos seus criadores. Hélio Morais, um dos “bateristas siameses”, fala-nos duma evolução proporcionada pela rodagem de palco (em especial nas memoráveis sessões “Só Desta Vez”, que tiveram lugar no Lux) e de certas mudanças no som da banda que teremos oportunidade de comprovar em breve. A palavra a Hélio Morais.
 
 © Tiago Pereira

Disseram numa entrevista que as músicas do LP de estreia são um pouco mais elaboradas, e por isso um pouco mais reais do que as do EP É Uma Água. Isto pode dever-se, em parte, à rodagem da banda ao vivo?

Com os concertos e em especial com o “Só Desta Vez”, aprendemos que há alguns espaços que devem ficar vazios. Quando fizemos o EP, não estávamos a pensar nisso, porque ainda não tínhamos tocado ao vivo. Estávamos de tal forma excitados com esta nova forma de fazer música (para nós) que íamos acrescentando todas as ideias que tínhamos, sem pensar que depois seria impossível tocar tudo aquilo ao vivo. Nesse sentido, este disco está mais real, como referes. Aprendemos igualmente a respeitar os espaços de cada instrumento, com o “Só Desta Vez”. Tivemos que alterar algumas coisas nas músicas, para não serem um atropelo constante e isso reflectiu-se naturalmente neste disco.

Pode dizer-se, então, que a série de concertos “Só Desta Vez” vos abriu horizontes que se reflectem neste álbum?

Sem dúvida. Passámos a prestar mais atenção ao detalhe. Às coisas pequenas. Deixámos que as músicas se comandassem a elas mesmas, em vez de deixarmos a nossa "tusa de mijo" falar por nós.

Existem algumas diferenças ao nível das vocalizações, por exemplo, com uma certa aproximação ao formato mais tradicional?

Essa era uma zona de conforto da qual queríamos sair. O EP é feito de vozes pós-hooliganistas e tem somente um apontamento com palavras. Aqui, queríamos dizer mais qualquer coisa, sem no entanto perder uma das coisas que define já o som de PAUS. Acho que conseguimos. Há músicas mais cantadas, outras menos, há músicas somente instrumentais, mas há essencialmente um aprofundamento da palavra na música de PAUS.
 
© Tiago Pereira

sábado, 24 de setembro de 2011

Bodyspace: Os 10 Lançamentos Mais Esperados Até ao Fim de 2011

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PAUS - Paus
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O longa-duração de estreia de PAUS é uma das edições mais aguardadas desta rentrée por várias razões. Desde logo porque o EP É Uma Água deixou muita gente de saliva na boca, pela originalidade de temas como “Lupiter Deacon” e pela forma como as composições foram crescendo ao vivo. Quem já viu actuações de PAUS (a sessão “Só Desta Vez” em que convidaram os DJs Riot – de Buraka Som Sistema – e Ride terá sido um dos grandes concertos de 2010) pode comprová-lo. E um dos factores que aguçam a curiosidade para este álbum prende-se com o que ficou escrito atrás: em que medida a rodagem de palco influenciou o som da banda da bateria siamesa, do baixo maior que o défice da Grécia e dos teclados que nos fazem sentir coisas? Pelas pistas lançadas – em temas como “Salsa Galáctica” ou “Deixa-me Ser” –, continuarão a aprofundar os pilares que fortificam o seu som, rara alquimia de ritmo, rock e electrónica; mas haverá lugar a novidades, tanto ao nível instrumental como das vocalizações. 
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Link para o artigo conjunto publicado originalmente no Bodyspace.
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Publicado também no P3 do Público, mais precisamente aqui.

sábado, 17 de setembro de 2011

O Circuito Regressa a Casa

 Foto de Mauro Mota
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Vinte anos depois, o Circuito Nacional de Bodyboard Open está de regresso à Ericeira. No primeiro dia da etapa que se realiza na Praia da Empa, entre os picos de Pedra Branca, Backdoor e Reef, falámos com dois competidores (Tiago Silva, o campeão em título, e João Guedes, atleta local) e com Paulo Costa, atual Presidente da Associação Portuguesa de Bodyboard (APB). O ponto de partida para a conversa foi esta espécie de regresso a casa do filho pródigo – relembre-se que o primeiro campeonato nacional teve lugar em Ribeira d’Ilhas –, mas também se manifestaram opiniões sobre o circuito que agora arranca e objetivos pessoais para a presente temporada competitiva.

Paulo Costa atribui grande significado ao regresso do Circuito Nacional a uma terra que, na sua opinião, faz parte do imaginário do nosso desporto. Para o Presidente da APB, «A Ericeira é a nossa pérola, provavelmente o trecho de costa nacional que reúne a maior qualidade de ondas num curto espaço de território, grande parte delas com ótimas caraterísticas para o bodyboard». Por isso, considera que deve haver sempre uma etapa na Ericeira.
Tiago “Moita” Silva, campeão nacional open em título, lembra, sorrindo, que na última vez em que se realizou uma etapa do nacional na Ericeira ainda nem fazia bodyboard. E acrescenta que é bom o circuito passar por aqui devido ao potencial das ondas, «o que é sempre bom para divulgarmos o nosso desporto junto do público que não está tão ligado à praia e aos desportos de ondas». O atleta da Póvoa de Varzim assume a candidatura à revalidação do título, afirmando-se preparado para o papel de “alvo a abater”, e mostra entusiasmo com a rota traçada para as outras três etapas – Cabedelo, na Figueira da Foz, Santa Catarina (Ilha Terceira, Açores) e Carcavelos. Entre risos, confidencia que a única prova que lhe merece algumas reservas é a que se irá desenrolar na “Catarina Assassina”. Não pela qualidade inquestionável desta onda, apenas por uma experiência pessoal menos bem sucedida: «Estive lá durante uma semana no Carnaval, há dois anos atrás, e não houve ondas nenhumas».
João Guedes, habituado a surfar e competir nas ondas da Ericeira, ainda não sabe se marcará presença na etapa açoriana – tal dependerá de questões financeiras e de como forem correndo os campeonatos até lá –, mas este ano (em parte impulsionado por ter uma etapa em casa, e logo num dos seus picos favoritos) vai voltar a correr o circuito, cujos locais escolhidos para as etapas dão garantias de boas ondas, na sua perspetiva.
De acordo com Paulo Costa, foi precisamente essa a intenção que conduziu aos destinos das quatro etapas deste circuito: «Ondas que proporcionem espetáculo. Ainda não temos período de espera – embora tal seja um objetivo para o futuro –, por isso temos que jogar com a sorte, mas escolhemos os sítios e as datas em que é mais provável apanharmos boas ondas».
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Publicado originalmente na Vert, mais precisamente aqui.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Combo Mulato

O quarto álbum de originais dos Dead Combo (a banda de Tó Trips e Pedro Gonçalves merece toda a atenção que lhe é dada e mais alguma) já tem título e data de lançamento anunciados: Lisboa Mulata chega às lojas no próximo dia 26 de Setembro e conta com participações ilustres. Aos portugueses Camané, Sérgio Godinho e Alexandre Frazão – que, só por si, garantem uma variedade de inputs criativos – junta-se Marc Ribot. Juramos que não tínhamos conhecimento desta colaboração quando, em Abril, a propósito da actuação no Cinema São Jorge do guitarrista americano que já integrou os míticos Lounge Lizards, escrevemos que «Ribot não ficaria nada mal alinhado com os lusitanian playboys Dead Combo».
Há título e data de lançamento – e também há teaser, que nos dirige o olhar para o que será a sonoridade do álbum, inspirado por uma «Lisboa Mulata de sangue quente» que «Ginga na guitarra e no destino que Deus lhe deu…».

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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Eddie Vedder - Ukelele Songs


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Quatro cordas à beira-mar.
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Se o primeiro álbum a solo de Eddie Vedder cheirava a floresta e correspondia a um apelo de escape à realidade urbana, Ukulele Songs corre para o mar, de forma tranquila, tal como sucedia com “Oceans”, há 20 anos. Não será por acaso que, em “Without You”, canta Sun sets upon this ocean / Never once on my devotion ou que no final de “Light Today” se ouve o barulho das ondas. Algo em comum a estes dois álbuns a solo do vocalista de Pearl Jam é precisamente a ligação à natureza: se na banda sonora de Into the Wild havia um forte vínculo à terra, as canções deste disco têm salgadiço nos poros.
Não deixa de ser curioso que uma estrela com esta dimensão se proponha a fazer um álbum quase apenas com voz e ukulele – em “Longing to Belong” acrescenta-lhe arranjos de cordas –, instrumento exótico ao seu habitat musical mas ao qual já havia recorrido numa das músicas (“Rise”) de Into the Wild.
Entre originais e versões (“Tonight you belong to me”, por exemplo, cantada a meias com Cat Power) encontram-se músicas percorridas por letras que oscilam entre a melancolia e o romantismo. São canções para a meia estação de Setembro, quando os dias vão ficando mais curtos mas o Sol ainda tem força. Não é um trabalho extraordinário, chegamos a certo ponto do disco e soa tudo um pouco ao mesmo – a única música que se distingue, pela energia extra, é “Can´t Keep”, logo a primeira do alinhamento –, talvez pelo facto de o ukulele (recentemente lançado para a ribalta, nem sempre pelas melhores razões…) não ser um instrumento muito elástico. Mas as composições surgem sinceras, delicadas, com uma certa poesia, num disco que pode ser acusado de tudo menos de pretensiosismo.

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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Nevermind: Reedição e Muito Mais nos Vinte Anos do Lançamento

O álbum que conduziu os Nirvana ao estrelato e colocou definitivamente a música alternativa/indie na rota do mainstream está prestes a ser reeditado por ocasião dos vinte anos do seu lançamento, que se celebram neste mês de Setembro. Nevermind chega às lojas em vários formatos, destacando-se a edição Super Deluxe – disponível a partir do dia 27 –, que inclui quatro CDs e um DVD, com inéditos, lados B e raridades. Mais do que merecido, para um disco que se tornou parte do património colectivo. Até Caetano Veloso (que gravou uma versão de “Come As You Are” em A Foreign Sound) escreveu recentemente que este é um dos discos que mais amou na sua vida.
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Mas as comemorações não se limitam à reedição de Nevermind. Entre as iniciativas em curso, destaque para o álbum de tributo disponível para download gratuito no site da Spin; e Setembro promete ferver: haverá uma exposição evocativa em Londres; Krist Novoselic vai participar num concerto em Seattle, no dia 20, em que o álbum será interpretado na íntegra; e no dia 24 poder-se-á ouvir uma emissão especial de rádio conduzida por Jon Stewart, na Sirius XM, em que estará presente o produtor Butch Vig, além do baixista e do baterista da banda. Foi também recentemente divulgado um vídeo da banda de Cobain, Grohl e Novoselic. Captado ao vivo no dia 31 de Outubro de 1991 – ano da edição do álbum –, no Paramount Theatre de Seattle, mostra a banda a tocar o hino (trans)geracional que é "Smells Like Teen Spirit".

 
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Entrevista: Norberto Lobo


Guitarra Sem Fronteiras
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Ao percorrermos o dedilhado de Norberto Lobo encontramos uma das vozes mais originais da música portuguesa da actualidade, invulgar alquimia onde cabem viagens por paisagens íntimas que julgávamos desconhecer e melodias que se soltam como poemas a partir das cordas da sua guitarra. O terceiro tomo da sua discografia a solo (Fala Mansa, editado no primeiro semestre deste ano) está aí para o comprovar, como se necessário fosse. E surgem cada vez mais comparações – rejeitadas pelo músico lisboeta – com o Mestre Carlos Paredes, a quem dedicou o seu primeiro álbum, Mudar de Bina. No breve diálogo que se segue o ponto de partida teria de ser sempre o seu último registo áudio – que contém algumas inovações e um par de sentidas homenagens. Mas há, também, espaço para remexer na sua arca de referências: músicos de eleição, sejam ou não guitarristas, compositores e bandas-sonoras marcantes. Por vezes com uma saudável pontinha de ironia.
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Link para a entrevista integral. Publicado originalmente no Bodyspace.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Inauguração da Taken - Urban Culture Store


Publicado originalmente na RUAmag, mais concretamente nas páginas 116 e 117 da 11ª edição.

Neves Grosso - Longe dos Holofotes


Publicado originalmente na Vert # 106.

Reserva Mundial de Surf da Ericeira


Publicado originalmente na Vert # 106.

Inauguração do Skate Park da Boardriders Quiksilver Ericeira


Publicado originalmente no Jornal "O Ericeira".

domingo, 11 de setembro de 2011

Amy Winehouse (1983–2011) Crónica de Uma Vida Cancelada

Não posso dizer que tenha ficado muito surpreendido quando, no passado Sábado, recebi uma mensagem a dizer que Amy Winehouse falecera. E boa parte das pessoas também não deve ter reagido com grande espanto à morte da cantora britânica. Consta mesmo que o seu pai, Mitchell, já redigira o discurso para o funeral há cerca de quatro anos.
Digressões canceladas (incluindo a que a traria ao Festival Sudoeste, no início do próximo mês), consequência de adições não resolvidas, e sem lançar nenhum álbum há quase cinco anos, a vida de Amy tornara-se um folhetim para encher revistas de mexericos. Desacatos conjugais e algumas detenções, entre várias tentativas de cura e recaídas, intercaladas por concertos intermitentes, muitos deles espectáculos tragicómicos, em que aparecia de voz e figura consumidas, como que um fantasma da imagem e voz que a deram a conhecer ao público. A decadência vinha-se acentuando com as luzes da ribalta, focos talvez demasiado fortes para alguém que soube fazer das fraquezas forças no álbum-catarse Back to Black (o maior legado que deixa), mas que nunca conseguiu lidar com a pressão da fama nem ultrapassar os vícios que a viriam a destruir – embora tenha passado por várias clínicas da especialidade, a letra de “Rehab” («i said no, no, no») falou sempre mais alto.
A indústria musical e os media, sempre sedentos de construir mitos, têm apontado ao exclusivo clube de Hendrix, Morrison, Joplin ou Cobain. É bem sabido que a morte prematura ajuda às vendas, mas se Winehouse não foi uma fraude (era autêntica, tinha alma e talento), paradoxalmente a sua figura apenas se tornará mítica por artes mágicas de marketing. É certo que viveu no fio da navalha, como as velhas glórias do rock, mas falta-lhe algo para se juntar à elite: inovação. As suas canções têm méritos, mas a curta discografia não fez avançar a História da Música; antes recuperou para as gerações actuais referências e imaginários de épocas passadas, do soul e jazz à pop dos anos 60.
Ainda assim, e parafraseando Neil Young, «it´s better to burn out than to fade away / Amy is gone but she´s not forgotten». Paz à sua alma.
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Horace Andy @ Club Lua

 
Parece que por cada pedra que agora levantas, aparecem concertos ou festas de reggae”, desabafou há pouco tempo um amigo perante a inédita vaga de eventos (substancial parte deles promovidos pela Positive Vibes, que desde 2002 trouxe a Portugal nomes como Israel Vibration, Patrice, Groundation, Toots & the Maytals ou Gentleman) dominados por sonoridades oriundas da pequena ilha caribenha que insiste em espalhar as suas sementes pelo globo musical. Este volume inusitado de root sessions e sound-systems acaba por gerar focos de resistência ao fenómeno, acabando muitas vezes por pagar o justo pelo pecador – afinal, não há fome que não dê em fartura, e os estômagos escanzelados apanham congestões com facilidade.
Cada género musical tem as suas vozes características, e Horace Andy é agraciado por um dos timbres mais singulares da Jamaica, mel enriquecido por texturas de vibrato. Além desse pormenor, este nativo de Kingston integra o lote de trigo dourado que deve ser separado do joio que – verdade seja dita – vem colado à moda que resume o reggae aos chavões ganja, Jah, rasta e Babilónia. Por acaso (?) Horace Andy, no refrão de uma das músicas da noite, lembraria para quem o quisesse ouvir que reggae’s not fashion.
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Link para o artigo integral. Publicado originalmente no Bodyspace.

domingo, 4 de setembro de 2011

Festival Músicas do Mundo

 Foto de Mauro Mota

O Festival Músicas do Mundo, cuja 13ª edição terminou ontem, preserva um carisma especial. Talvez por ser fruto da organização da Câmara Municipal de Sines, que se foca na essência (os sons oriundos dos cinco continentes) e não deixa o evento ser contaminado pelo acessório (enxurradas de marketing e circo mediático), como se verifica com outros congéneres, transformados em mais um pretexto para beber uns copos e conviver com os amigos. Por se tratar de um festival que oferece alguns concertos gratuitos – não só na Avenida Vasco da Gama como também no Castelo –, o FMM atrai tribos urbanas não muito habituais nos festivais de Verão mais famosos (e onerosos), mas entre freaks de rastas e alargadores também é possível tropeçar num senhor de meia-idade e aparência nórdica, que lê tranquilamente o jornal no seu iPad, sentado nas ervas que cobrem o recinto do Castelo, enquanto em redor se pula e dança.
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Link para o artigo integral. Publicado originalmente no Bodyspace

Canções de Verão


Na continuação daquilo que foi feito o ano passado, e para deixar uma montra bem bonita antes de irmos de férias, a equipa do Bodyspace escolheu uma banda sonora possível para o Verão. Reflexo do gosto pessoal de cada um dos meliantes cá da casa, é uma lista à imagem do espírito da silly season, aversa a grandes contextualizações que não o facto de se tratarem, efectivamente, de canções que de algum modo são ressonantes com a chegada dos dias quentes. O Verão é aquilo que se quiser e a diversidade de escolhas é sintomática disso mesmo. Seja isso a praia (que é afinal um estado mental), o one night stand, as noites bem longas, os mergulhos alcoólicos ou aquele passeio singelo que se torna num pesadelo por causa das multidões de gente suada, está aqui todo um manancial de opções para salvar ou acabar com o Verão. Bruno Silva
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Artigo colectivo publicado no Bodyspace, mais precisamente aqui.