segunda-feira, 25 de julho de 2011

Thievery Corporation - Culture of Fear

Na capa de fundo preto, uma micro-câmara, espécie de smaller brother em vigília permanente; no interior, mais um tomo em que a dupla Rob Garza / Eric Hilton não desilude os ouvintes acérrimos da sonoridade lounge – elegante na fusão de elementos dub ou bossa nova – , mas também não arrisca muito nem tem o grão na asa de Cosmic Game, por exemplo. As latitudes musicais a que os músicos de Washington vão beber continuam inalteradas, mudando apenas alguns dos protagonistas que dão voz ao projecto. Soa mal? Não; o problema é que soa a mais do mesmo.
«Seems to me like they want us to be afraid, man / Or maybe we just like being afraid / Maybe we’re just so used to it at this point that it’s just a part of us / Part of our culture». A intro do tema-título é certeira – desde o 11 de Setembro que o nível de alerta não baixa, mesmo que o terrorismo actual seja mais de nível financeiro –, e entre o rap de Mr. Lif e a pulsão dos sopros, chega o apelo: «don’t succumb to this culture of fear». Apesar desta dica e das palavras de Ras Puma em “Overstand” ou “False Flag Dub”, este não é, ainda assim, um álbum com uma carga política tão vincada como Radio Retaliation, de 2008. Onde o antecessor era directo (“Vampires” ou “El Pueblo Unido”), Culture of Fear mostra-se mais etéreo, como em “Stargazer” (bela peça de dub narcótico para contemplar o firmamento no embalo de Sleepy Wonder) ou “Tower Seven” – instrumental em forma de longa deambulação atmosférica (quase oito minutos) entre o funk e o chill out. Até mesmo “Free”, a faixa final, apresenta mais interrogações do que certezas na voz de Shana Halligan.
Uma coisa é certa: a alteração de inquilino na Casa mais famosa de Washington trouxe grandes esperanças aos EUA e ao mundo, e muito mudou desde então, entre rupturas e expectativas por cumprir. Mas a embalagem das composições de Thievery Corporation não avançou grande coisa daí para a frente.
 
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

sábado, 23 de julho de 2011

Músicas para todo o Mundo

 
Na próxima sexta-feira começa mais uma edição do Festival Músicas do Mundo, em Sines. Entre os dias 22 e 30 de Julho, o Castelo e a Avenida Vasco da Gama vão ser palco de dezenas de concertos – além de outras iniciativas – que mostram por que esta localidade alentejana é uma referência para os amantes de world music. Música tradicional dos quatro cantos do globo, afrobeat, jazz, projectos de fusão e vanguarda, num festival que se distingue da generalidade de eventos do género que inundam Portugal durante o Verão. A variedade e qualidade é tanta que o melhor é deixar o link para o cartaz do FMM. Ainda assim, avançamos com alguns destaques:

22 de Julho: o fadista António Zambujo abre o festival, dia em que o senegalês Cheikh Lô e os norte-americanos Secret Chiefs 3 (formados por membros de Mr. Bungle) também sobem ao Castelo;

23 de Julho: neste dia Portugal está representado pelo guitarrista António Chainho, que apresenta Lisgoa na terra onde nasceu Vasco da Gama. A não perder, também, Congotronics vs. Rockers: "dez músicos originários dos grupos da série Congotronics dialogam em palco com dez músicos da cena rock alternativa";

24 de Julho: a brasileira Luísa Maita e o ganês Ebo Taylor (acompanhado pela Afrobeat Academy) prometem fechar o primeiro fim-de-semana de concertos com ritmos quentes;

27 de Julho: do experimentalismo dos portugueses Mikado Lab à fusão criada por Blitz the Ambassador (hip hop com afrobeat e jazz), passando pela multi-instrumentista galega Mercedes Peón, numa rota que inclui ainda três outras paragens musicais;

28 de Julho: no Castelo, a soul da sul-africana Nomfusi antecede o encontro entre a slide guitar de Vishwa Mohan Bhatt e o grupo cigano The Divana Ensemble; a noite termina com jazz na Av. Vasco da Gama – Tuba Project, com a participação de Bob Stewart;

29 de Julho: a fusão de rock e música árabe dos Dissidenten e dois projectos portugueses bem distintos. A big band L.U.M.E. passeia-se entre o jazz, o rock e a música erudita; já os açorianos O Experimentar Na M’Incomoda dedicam-se a reinventar a música tradicional do arquipélago encantado;

30 de Julho: no encerramento do FMM vão estar os imperdíveis Sly & Robbie, acompanhados por Junior Reid. Mas, além da dupla rítmica mais importante da história da música jamaicana, há outro nome ilustre – Mário Lúcio, fundador dos Simentera e actual Ministro da Cultura de Cabo Verde. A festa desagua na Avenida, com os Kumpania Algazarra.
 
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

domingo, 17 de julho de 2011

Optimus Alive 2011 - 4º dia


Três dias e largas dezenas de bandas e DJs depois, eis-nos chegados à derradeira etapa do tour musical que teve lugar no passeio marítimo de Algés: cartaz para todos os gostos, dos adolescentes aos maduros, dos mainstream aos “alternativos” (que hoje são boa parte da maioria…), de quem vai pelo rock e de quem não sai da tenda electrónica. A prudência aconselhar-me-ia a fazer uma selecção criteriosa dos concertos, mas em vez de passar o dia em modo-poupança andei feito barata-tonta de palco em palco.

Link para o artigo completo.
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Publicado originalmente no Bodyspace.

Optimus Alive 2011 - 3º dia

A imagem que marca o terceiro dia deste festival é um enorme palco vazio durante horas a fio. A arena por onde iriam passar os cabeças-de-cartaz, 30 Seconds to Mars, de Jared "Fight Club" Leto, e Chemical Brothers, esteve em risco de fazer figura de obra embargada, ou seja, de não ser habitada por ninguém. Estas bandas lá haveriam de tocar, mas antes correu baba e ranho, houve desmaios e muita ansiedade por parte - principalmente - dos adolescentes fanáticos pelos 30 Seconds to Mars. Na conferência de imprensa que se seguiu ao concerto de Chemical Brothers, Álvaro Covões, da Everything is New, explicou que os três primeiros concertos de hoje (Klepht, Pretty Reckless e You Me at Six) foram cancelados devido a questões de segurança. Os técnicos responsáveis pelo material que é pendurado no palco chamaram a atenção para uma viga que não lhes dava confiança, e a organização chamou um grupo de engenheiros para darem a sua opinião. A decisão de cancelar esses concertos foi, assim, tomada para dar tempo aos técnicos para assegurarem a segurança dos artistas e do público. A estrutura acabou por ser reforçada por duas gruas, o que possibilitou que os cabeças-de-cartaz actuassem, embora com cerca de uma hora de atraso. Explicações dadas, como é da praxe, sinceramente estive um bocado alheado de tudo isto, que a acção nos palcos secundários - principalmente no Super Bock - chegava e sobrava para as encomendas.

Link para o artigo completo, escrito em parceria com Paulo Cecílio.
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Publicado originalmente no Bodyspace.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Entrevista: Hipnótica

 
2010 marca um ano de viragem para os Hipnótica. Trocaram a tecnologia (em parte, pelo menos) por uma plumagem colorida e agora estão numa clareira com relva, respirando o ar puro dos campos e deixando os raios solares brilharem sobre a sua música, agora mais radiante, enquanto desfrutam o momento, após o lançamento de Twelve-Wired Bird of Paradise. «Um álbum feito a pensar em espaços ao ar livre mas também contaminado pelas pistas de dança.» Em ambos os casos, gestos de expressão e libertação pessoal. João Branco Kyron (letras, voz, sintetizadores, programação, percussão) completa a banda de Bernard Sushi, JP Daniel, Sergue e António Watts, e acedeu a responder-nos a algumas perguntas, numa conversa que decorreu sem pressas. Como se dois amigos se encontrassem num dia de Primavera para cavaquear sobre assuntos de interesse comum, e a tarde soalheira se fosse prolongando até à hora do jantar.
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Publicado originalmente no Bodyspace.

Real Combo Lisbonense @ Clube Ferroviário

© Tiago Pereira
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Primos dos Irmãos Catita, mas sem caralhadas, o RCL atrai um público cada vez mais alargado. Dos (2)7 aos 77, diria. E composto tanto pelo trolha que dá espectáculo com uma bela cardina, metendo-se com quem quer que seja, como por jornalistas circunspectos e jovens de fato escuro e óculos à Zeinal Bava.
Um casal dos seus setenta anos roda em frente ao palco, sob a música da banda inspirada pela brasileira Orquestra Imperial. No fim dum tango ele ajoelha-se aos pés dela, beijando-lhe as mãos. O amor era lindo nos anos 60 – e continuará a sê-lo para todo o sempre.
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Publicado originalmente no Bodyspace.

The Legendary Tigerman @ Coliseu dos Recreios



© Tiago Pereira
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Paulo Furtado não nasceu para a música com pele de Tigre. A sua carreira é longa, e as voltas musicais que já deu proporcionaram-lhe diversos encontros. As datas marcadas para os Coliseus (na véspera apresentou-se na Invicta) foram aproveitadas para tornar este par de concertos em ocasiões únicas, reunindo diversos amigos e companheiros de estrada.
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Link para o artigo integral.
Publicado originalmente no Bodyspace.

Salvar as Ondas

Na Ericeira, os protagonistas do ciclo de conferências “Salvar Ondas e Orlas Costeiras - Exemplos da Califórnia”, organizado pela S.O.S. - Salvem o Surf, partilharam ideias importantes para a comunidade de “corredores de ondas”.

“A candidatura da Ericeira a Reserva Mundial de Surf foi a melhor que já vi.” - Mark Massara

Foto de Mauro Mota

As palavras do surfista e advogado norte-americano (com décadas de intervenção ambiental, na barra dos tribunais e ao nível associativo) abrem boas perspectivas para o futuro dum dos palcos de eleição para os bodyboarders nacionais, já que um dos critérios de aprovação das candidaturas a Reserva Mundial de Surf é a singularidade das características ambientais da área em análise. E, uma vez que o estatuto de Reserva pode ser retirado às zonas que deixem de cumprir os requisitos, a preservação costeira terá de ser uma linha orientadora para os responsáveis políticos.

Por outro lado, o Vereador da Câmara Municipal de Mafra, Eng. Hélder Silva, após apresentar esta candidatura - que vai da Praia da Empa a São Lourenço (onde muitos dos leitores da Vert surfam, entre outras ondas, Pedra Branca, Reef, Ribeira de Ilhas, Cave, Crazy Left, Coxos e São Lourenço), garantiu que não haverá mais construções na encosta norte de Ribeira d'Ilhas e na área envolvente à Praia da Empa.

João Macedo, surfista e membro do programa de Reservas Mundiais de Surf (World Surfing Reserves - WSR) disse que estas serão um factor importante nas decisões que possam afectar a costa. “O WSR, à semelhança do que a UNESCO faz ao classificar determinados locais como Património Mundial, pretende demonstrar às comunidades o valor de certas ondas e respectivas orlas costeiras, de forma a que as mesmas sejam preservadas”.

O Presidente da S.O.S., Pedro Bicudo, demonstrou os custos de cada onda perdida e da degradação do litoral: “Quando há construções na costa, esta perde qualidades naturais. Mesmo quando há um empreendimento que pode trazer milhões de euros ao país, devemos pensar que, do ponto de vista turístico, a especificidade de Portugal é o Oceano. Podemos perder muitos dos doze milhões de turistas que recebemos por ano, se poluirmos a costa ou a enchermos de hotéis ou casas.”
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Publicado originalmente na Vert, mais precisamente aqui.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

B Fachada - Deus, Pátria e Família

Fachada Militante Internacional
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Sinto-me como um herege que entra num templo alheio e aprecia a sensação. Confesso que nunca tinha reconhecido especiais méritos ao trovador de Cascais - dele se costuma dizer que ou se ama ou se odeia, certo? -, mas ajoelho-me perante este novo trabalho como um cristão-novo. É o cacarejar que se ouve no início (Portugal, apesar das décadas de integração europeia, continua um país tão periférico e atrasado que as galinhas continuam a picar o chão ainda livre de betume), a transição do suave drone para uma pianada irresistível ou a letra desbragada que capta o ar dos tempos como poucas.

"Portugal está para acabar / É deixar o cabrão morrer / Sem a pátria para cantar / Sobra um mundo para viver / Chegam flores do estrangeiro / Já escolhemos o coveiro / Por mim é para queimar / Mas não quero exagerar" (...). É fácil cair na comparação com o icónico 'FMI" - cerca de trinta anos depois, e a situação é de perturbante flashback -, mas Deus, Pátria e Família não se resume a um mero upgrade da obra de José Mário Branco. Promete desordenação e boicote porque "Já não chega a abstenção (...) Tamanha a piça do poder". Sim, nos próximos tempos a coisa vai doer. E nos cofres do Estado nem deve haver dinheiro para vaselina...

Musicalmente, este EP tem o cimento duma obra conceptual. Curto na duração (20 minutos certos) mas com fôlego e pontaria afinada. Não sei se Deus, Pátria e Família convencerá os velhos fãs do cantautor, mas os outrora cépticos - seja isto entendido de forma literal ou como eufemismo - encontrarão aqui uma excelente porta de entrada para um universo singular. Aprecie-se ou não o que está para trás, que o novo "EP de Verão" não é p'ra meninos.

Publicado originalmente no Bodyspace, mais precisamente aqui.

Festival Sumol Summer Fest

© Mauro Mota

O festival que arranca com a temporada de Verão terá, também, uma das médias etárias mais baixas dos eventos open air que marcam uma saison com tanto de silly como de sedução. Não é assim de estranhar a euforia de quem faz fila para entrar no camping da Ericeira ou comete excessos para absorver a experiência de passar um fim-de-semana longe do controlo familiar. De tal forma que, logo no primeiro dia, passados três quartos de hora sobre o início dos concertos, já era possível assistir a uma baixa – os bombeiros amparavam uma jovem que espalhava pelo pavimento do recinto as vibrações positivas absorvidas nas últimas horas… Nada de grave: faz parte duma espécie de ritual de passagem dos tempos modernos e está incluído no pack praia + música. Neste capítulo, destaque para os concertos dos portugueses Freddy Locks e Cacique´97, de Fat Freddy´s Drop e Anthony B, bem como para os DJ Sets de Guy Gerber e DJ Ride. O Summer Fest pode apresentar um cartaz demasiado feel good para determinados gostos, mas esta edição ofereceu uma saudável diversidade que foi de várias escolas de reggae ao afrobeat, passando por surf music e electrónica de boa colheita.

Link para o artigo completo.

Publicado originalmente no Bodyspace.

Festival Sumol Summer Fest - 2º dia

© Mauro Mota

Link para o report.

Publicado originalmente no Bodyspace.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Nas & Damian Marley @ Pavilhão Atlântico

© Rúben Viegas

Quando os protagonistas maiores da noite entram em palco, já as águas atlânticas estão aquecidas pelo dj set que passa em revista alguns nomes históricos do hip hop, como 2Pac, Notorious B.I.G. ou Wu-Tang Clan. Quando o dj pergunta «Does anybody smoke weeeeed?» ouve-se o primeiro grande bruaahhh – e, de facto, o aroma circundante confirma a resposta. O fogo continua bem aceso nas duas horas seguintes, com o cocktail explosivo dos parentes afastados a ser detonado por “As We Enter” (malha fortíssima de quem não se limita a tocar à campainha, arrombando a porta ao pontapé) e “Nah Mean”, numa cavalgada pautada pelo refrão. A bandeira do movimento rastafari não pára de ser agitada, e no palco vão-se intercalando temas cantados em conjunto ou a solo, ora por Nas ("Hate Me Now" ou "Got Yourself a Gun" e "Hip Hop Is Dead") quer por Damian Marley – “More Justice” ou o já clássico “Welcome To Jamrock”. O sangue que lhe corre nas veias não engana, e Jr. Gong faz avançar a herança do Rei do reggae no Século XXI.

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Publicado originalmente no Bodyspace.

Taylor McFerrin @ Clube Ferroviário

© Mauro Mota

Descrever este concerto sem começar pelos problemas informáticos que desafiaram o espírito desenrasca de Taylor McFerrin seria como falar do 1º de Abril sem referir o volume anormal de mentiras que circulam nesta data.

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Publicado originalmente no Bodyspace.