sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mais festas para dizer adeus a 2011

.
Festas de passagem de ano (aka reveillons) há muitas; e como não é possível dar conta de todas, deixam-se aqui mais duas sugestões lisboetas, entre o atrevidote e o bollywoodesco. Quem for ao Clube Ferroviário, em Santa Apolónia, pode entrar a bordo do Bollywood Express – conduzido pelos DJs Jigar e Mayush –, que vai servir um repasto indiano e filmes dessa Meca da Sétima Arte que dá pelo nome de Bollywood. As entradas variam entre os 15 euros (que dão direito a uma bebida) e os 75 – garrafa de champanhe e bar aberto –, com valores intermédios para quem quiser uma garrafa de espumante nacional (25 €) ou de champanhe (40 €) para celebrar a entrada em 2012 enquanto é tempo.
Já o Santiago Alquimista, ao Castelo, junta os Irmãos Catita aos Ena Pá 2000 para um Reveillon Atrevidote, noite de bailarico que terá Eugénio Royale como mestre-de-cerimónias e pela qual passarão Miss Suzie, as coristas Cindy Laroca e Vicky Marota, o MD (Mete-Discos) Gimba e Phill Mendrix. Além de garantirem o sorteio de kits marotos, prometem que este vai ser o derradeiro reveillon antes da queda no abismo, por isso é melhor aproveitar a oportunidade para contar os cêntimos (entradas a 25 € para quem entrar entre as 22 horas e a 1:30 da noite; 25 € para quem só aparecer depois desta hora) e queimar os últimos cartuchos.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Do Minho a Nova Iorque – a vida de António Variações no grande ecrã

.
Parece que é desta que o filme sobre o genial músico português está em vias de avançar, após a respectiva produção ter sido interrompida devido a divergências (que conduziram a um litígio judicial) entre o realizador Rui Maia e a produtora Utopia Filmes. Segundo a Time Out Lisboa, já foi escolhido o protagonista: Sérgio Praia encarnará António Joaquim Rodrigues Ribeiro – nome de baptismo de Variações, cujas canções também interpretará –, num percurso que teve tanto de curto como de brilhante. O filme começará com uma viagem do cantor de “Estou Além” a Nova Iorque, onde terá sido contraído o vírus da SIDA (e em consequência do qual viria a falecer em 1984), para depois revisitar a sua infância na vila de Amares, perto de Braga, e terminar com o mesmo já em estado debilitado mas ainda a «cantar canções para o gravador».
Tendo obtido uma sentença favorável na acção judicial proposta contra a Utopia Filmes, Rui Maia procura agora financiamento para filmar a história de Variações – «musical realista»» e «biografia ficcionada» –, pretendendo iniciar a sua produção já em 2012.
.

.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Primitive Reason @ TMN Ao Vivo

.
Quando uma banda que ajudou a desenhar uma época, conquistando uma base sólida de fãs, atravessa uma fase de mudanças na formação e faz um pousio discográfico relativamente longo, pontualmente interrompido por um ou outro concerto, o futuro torna-se um enorme ponto de interrogação. No regresso ao activo a química entre os membros ou a sintonia com os novos tempos pode ter-se esfumado algures. Era, pois, com curiosidade que se esperava o que iria sair deste concerto (antes da banda entrar em palco havia quem trocasse memórias da última vez em que os tinha visto tocar, em ocasiões mais ou menos longínquas) e, principalmente, de Power To The People, sexto longa-duração da banda de Guillermo de Llera e cia., com lançamento previsto para o primeiro trimestre de 2012.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Eu gosto é do Verão

.
Entramos no Inverno, a Estação das noites longas e gélidas. Mas, como tudo isto é uma questão de ciclos, a boa notícia é que a partir de agora os dias vão começar a aumentar até chegarmos ao Verão e darmos mergulhos na praia. Faz, por isso, todo o sentido lembrar que por estes dias os míticos Beach Boys anunciaram que estarão de volta em força no já próximo 2012, ano em que se comemora meio século sobre o lançamento do seu primeiro disco, Surfin’ Safari. E como a efeméride justifica um regresso em grande, prometem uma série de reedições, nova colecção de êxitos, um álbum novo de originais (que deverá ser editado em Abril) e ainda uma digressão mundial, que se inicia também em Abril, em New Orleans, e que incluirá 50 datas. O genial fundador Brian Wilson mostra-se muito entusiasmado pela oportunidade: «Tenho saudades dos meus rapazes e vai ser emocionante fazer um disco novo e estar com eles em palco outra vez». Wouldn’t it be nice que viessem cá fazer uma visita?!
.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Primitive Reason ao vivo e com novidades

.
Os Primitive Reason têm andado a trabalhar na composição do sexto álbum da sua discografia, e na próxima quinta-feira, dia 22 – talvez contagiados pelo espírito natalício – vão dar uma prenda antecipada aos fãs: um concerto na sala TMN Ao Vivo, no qual se farão acompanhar de convidados especiais e onde irão apresentar novidades além de temas marcantes. O novo disco de originais, que deverá sair durante Fevereiro de 2012, terá o título de Power To The People, o que faz todo o sentido nos tempos agitados que correm – lembre-se, a propósito, que ainda esta semana a revista Time elegeu como personalidade do presente ano os manifestantes que, um pouco por todo o globo, têm saído à rua para protestar contra a tirania, a corrupção e a crise ou para fazer revoluções. O dia chegará…
 
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

You Can´t Win, Charlie Brown - Chromatic

.
Charlie can´t lose

Como se atravessássemos um bosque, somos invadidos por cheiros e tonalidades, o vento bate-nos na face e galhos estalam à nossa passagem. Tal como a Natureza se apresenta em constante mutação, com plantas a nascer, folhas a cair, dias que aumentam ou diminuem, estas músicas ora anunciam a chegada da Primavera, ora carregam prenúncios outonais. Chromatic é um título que assenta como uma luva a esta estreia: estamos perante uma paleta de cores, cheiros e texturas. Uma pop/folk complexa nos ingredientes utilizados mas que resulta em canções que comunicam facilmente aos ouvidos e às emoções. A criatividade e o apurado sentido estético que por aqui andam de mãos dadas não se perdem em exercícios de show off nem em demonstrações de virtuosismo pueril – estão ao serviço das canções, como deve ser.
Cruzam-se elementos orgânicos (guitarra acústica e outras cordas, palmas) com electrónica, como noutros projectos contemporâneos – já ouviram de certeza as comparações, mais ou menos certeiras, com Fleet Foxes ou Grizzly Bear, por exemplo –, mostrando mais uma vez como as barreiras entre o digital e o analógico fazem cada vez menos sentido, sendo ambos meios ao serviço das canções e não um fim em sim mesmo. Mas este projecto tem uma identidade própria, apesar das referências que, como é natural, se podem ir buscar, aqui e ali.
Nota-se também uma assinalável coesão. Tal como numa equipa, o valor do colectivo sobrepõe-se à soma das partes ou dos talentos individuais. Não é que lhe faltem canções memoráveis. “Green Grass #1” é belíssima, todos os elementos trabalhados de forma cuidada sobre o tapete sonoro; e “I´ve Been Lost” (fusão perfeita entre as palmas, a voz e a bateria nervosa) ou “An Ending” são outros grandes momentos. Mas o disco encarado como um todo sobrepõe-se às faixas isoladas, o que só o valoriza. Uma estreia destas não são peanuts. Estamos na presença duma vitória em toda a linha para os amigos do Charlie Brown.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Topes 2011 Bodyspace


Nº 1 Geral : Panda Bear - Tomboy
Logo na primeira faixa Panda Bear garante que podemos contar com ele. E as hipotéticas dúvidas – é difícil guardar reservas quando falamos de alguém que nos tem dado alguma da melhor música dos últimos anos, tanto a solo como nos Animal Collective – desfazem-se à medida que vamos mergulhando em Tomboy. Se a maior parte dos discos não resiste a audições consecutivas, este como que cresce a cada viagem pelas suas onze faixas, de que “Slow Motion” ou “Last Night At The Jetty” serão paradigmas de excelência: música na vanguarda, sem se deixar enredar por modas fugazes, e que nos transporta para outras dimensões. As harmonias vocais envoltas em eco e as múltiplas camadas sonoras transmitem carradas de sensações, tanto nos fazendo dançar como elevar acima das ondas (em “Surfer’s Hymn”), cantar ou orar, na mais introspectiva “Scheherazade”. Já tínhamos apontado o número de temas do disco: onze, tantos quantos os jogadores que formam uma equipa de futebol, como a do Glorioso clube de que Noah Lennox é adepto confesso. “Benfica” encerra Tomboy como um golo dourado decide uma partida. E mesmo quem não liga a futebol se emocionará com o apoteótico clamor do Estádio, em vagas de louvor à vitória que, no final de contas, é o que todos ambicionamos e aquilo que Panda Bear mais uma vez consegue com este disco.
 
Nº 12 Geral: Radiohead - The King Of Limbs
Ponto prévio: este álbum não entrará no pote milionário onde cabem obras como Ok Computer, Kid A ou Amnesiac. Ainda assim, The King Of Limbs eleva-se acima da mediania do muito que se vai produzindo por aí, e é caso para dizer que se fosse da autoria de alguma banda emergente não seria difícil gerar estardalhaço em seu redor. E não sendo um disco imediato (o que nem é de estranhar em Radiohead), recheado de clássicos absolutos ou temas que entrem à primeira – “Lotus Flower” será a que mais se aproxima disso, com aquela linha de baixo e Thom Yorke em grande estilo –, apresenta um punhado de momentos inspirados. Do nervosismo que transpira de “Morning Mr. Magpie” à alucinante complexidade rítmica de “Feral”, passando por momentos mais densos (a perturbante “Codex”) ou a estranha beleza de “Give Up The Ghost”. Enfim, mesmo futebolistas geniais como “El Mago” Pablo Aimar nem sempre se exibem ao mais alto nível, mas guardam mais magia numa simples finta de corpo do que muitos jogadores esforçados em mil correrias pela linha lateral.
.
Nº 16 Geral / Nº 3 Portugueses : PAUS - PAUS
Poderia voltar a descrever o entrosamento entre Hélio e Albergaria (os bateristas-siameses de serviço), que roça a perfeição; a grandeza diabólica do baixo manipulado por Makoto; as sensações transmitidas pelos teclados de “Shela”; as palavras, que permanecem um instrumento mas ganham um protagonismo maior e contornos mais nítidos; ou a forma como tudo isto se agiganta em palco, na troca de fluidos com o público. Mas já estamos fartos dessas conversas – dos trocadilhos com o nome da banda, então, nem vale a pena falar. É melhor, então, concentrarmo-nos na música: Música não linear / Música para dançar / Música para tripar / Música para malhar / Música para queimar / Música para saltar / Música para transpirar / Música para gritar / Música para contemplar / Música para escutar / Música para descruzar / Música para explorar / Música para tocar / Música para inspirar / Música para voar / Música para desmaiar / Música para hipnotizar / Música para iluminar / Música para viajar / Música para acordar / Música para mergulhar / Música para libertar / Música para vaguear / Música para Pausar… Upss!
.
Nº 8 Portugueses: B Fachada - Deus, Pátria e Família
Portugal continua muito marcado por dois triunviratos: o “Deus, Pátria e Família” que dá nome a este EP e os “Três FFF” – Fado, Futebol e Fátima, aos quais se voltou a juntar o malfadado FMI, num ano que foi tudo menos fácil. E 2012, insistem em tom de ameaça, vai ser ainda bem pior. Sendo assim, o que B Fachada aqui canta soa cada vez mais acertado, entre uma revisão da matéria dada, a premonição de «Portugal está para acabar» / Portugal vai rebentar» e a captação do ar dos tempos. Sublima-se uma realidade negra (trocado por miúdos: torna-se a merda em algo belo) através do cacarejar de galinhas, do piano – que começa fúnebre para animar passado um tempo, como uma ave que estrebucha depois de lhe cortarem a cabeça – e da voz, que dispara rimas em fachadês contra a «piça do poder» e apela ao boicote do sistema, pois já não chega a mera abstenção. E quando suspende o ataque às idiossincrasias da pátria, naquele ritmo incendiário, B Fachada debruça-se sobre o que lhe é mais querido e familiar – a abrir e a fechar a segunda parte canta coisas íntimas, numa toada lenta e melosa. São “apenas” 20 minutos, mas dizem muito sobre nós.
.
Participação no artigo colectivo Topes 2011, publicado originalmente no Bodyspace

Ena Pá 2000 e o Álbum Bronco em estreia no Music Box

© Sofia Quintas
Os Ena Pá 2000, instituição maior do deboche musical liderada pelo bigger than life Manuel João Vieira, têm um disco novo, intitulado Álbum Bronco. Dizem que levou esse selo porque já existia um Álbum Branco. Dizem também que o novo álbum demorou apenas dois dias a gravar – o resto do tempo foi dividido entre a produção dum novo alfabeto que se encontra no libretto, a elaboração da capa, sandes de courato, bagaceira e confraternização com senhoras respeitáveis…
Apenas parte de tudo isto será verdade; mas como entre a lenda e a verdade deve sempre prevalecer a lenda (adjectivo que, de resto, assenta que nem uma luva aos autores de clássicos absolutos como “Sexo na Banheira”, “Alice” ou “És Cruel”), levamos tudo isto em mente quando amanhã, dia 13, formos até ao Music Box, no lisboeta Cais do Sodré, presenciar a apresentação do Álbum Bronco, que em canções como “Lulu” ou “Mulher Portuguesa” capta o Zeitgeist desta época. O concerto/showcase especial, que é de entrada livre, começa às 22 horas e diz que termina às 23:30 – mas com esta malta, nunca é de fiar…
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Disco: Diego Armés - Canções Para Senhoras

.
Os rockers também sentem.

Estamos perante uma estreia a solo, mas não se trata dum caloiro. O Diego Armés que nos apresenta estas Canções Para Senhoras é o mesmo que canta, toca guitarra e compõe em Feromona. Mas se nesta banda é guiado pela pujança do roquenderole, aqui conduz-nos por um universo íntimo, arriscando enveredar por temáticas mais sentimentais (sem serem lamechas) ou românticas, nem sempre alegres ou soalheiras.
O que Diego canta numa das faixas, intitulada “Canção Sentimental”, permitirá compreender o que está na génese da sua estreia a solo: «Tentei ser diferente / Não fazer canções sentimentais / Só letras pujantes / Que abordassem temas capitais / Mas ficava tanto por contar / Das coisas que eu junto devagar (…) / Tentei fazer rock mas só me sai poesia». É também dos temas em que mais se expõe, confessando: «Quebrei regras minhas para criar / Uma canção sobre o que é gostar / Das festas, dos toques, da fusão dos corpos / Da voz e do odor / Que eu provo em silêncio quando estamos mornos / Depois duma dança de amor». A relevância atribuída às palavras, já bastante forte em Feromona, ganha aqui outro peso – Diego Armés dá-lhes a volta, para seduzir ouvintes com cortesia, elegância, charme –, impondo que as convoquemos em algumas ocasiões. Na verdade, num disco acústico (voz, guitarra, piano, violoncelo, percussões, melódica e acordeão) e moldado sobre formas simples e delicadas, o que sobressai é, sobretudo, o cuidado e a qualidade aplicados nas composições e arranjos.
O álbum abre com “Tanto Faz”, introduzido pelo piano de João Gil (o membro de Diabo na Cruz e You Can’t Win, Charlie Brown também toca guitarra em Feromona), depois acompanhado pelas cordas e voz. Por vezes o timbre de Diego Armés poderá fazer lembrar um pouco Jorge Palma – especialmente nesta música e em “Amor e Violência”, com que fecha o trabalho –, mas estamos perante uma voz e uma poética originais. Em "Tanto Faz" canta, bem a propósito: «Pesco as palavras com uma linha e um anzol / Tem dias bons que as bichas mordem menos mal / E às vezes caço com uma lupa num jornal / Termos que ainda não constavam do meu rol».
Entre os dez temas “oficiais” encontramos mais de meia dúzia de gemas preciosas que ficariam bem alinhadas na colecção de alguma senhora endinheirada. Aquelas de que se falou atrás, e outras: reflectidas, por exemplo, no ambiente melodramático criado em “O Fim da História”, na “Mitologia Passional” (tensa como uma corda muito esticada e que pode partir a qualquer instante), na anarquia literária da arrepiante “Entre Dentes” ou no desalento sentido em ”A Cadeira”. Mas é melhor que jóias deste quilate estejam no domínio público para brilharem em liberdade e aos ouvidos de todos.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Beatbombers são os novos campeões mundiais de Scratch/Turntablism

.
No próximo Verão, as melhores selecções europeias de futebol vão andar pela Polónia (e Ucrânia – dois países frios mas com mulheres bem quentes) a disputar o Euro 2012. No passado fim-de-semana, os portugueses Beatbombers – dupla dinâmica composta por DJ Ride e Stereossauro e que há meses editou Tuga Breakz – mostraram como é que se faz: trouxeram de Cracóvia (Polónia) para casa, pela primeira vez, o título de Campeões do Mundo de DJs IDA (International DJ Association) 2011, na categoria “show”.

Depois de se terem tornado vice-campeões mundiais, no ano passado, e de nos últimos meses terem acumulado títulos – primeiros lugares na categoria “Team/Equipas”, do campeonato nacional DMC Portugal, em Setembro, e na categoria “Show” do campeonato nacional IDA Portugal, em Novembro – os Beatbombers viram, assim, no último Sábado «Um sonho antigo tornado realidade. Virámos uma página no turntablism nacional e escrevemos os nossos nomes e o de Portugal no scratch internacional». Mas não pretendem ficar por aqui: «Queremos continuar a competir como equipa e a subir a fasquia, até porque este é apenas o terceiro campeonato em que participámos», afirmam, revelando ambição para o futuro.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Fado continua a ser nosso, e agora é Património da Humanidade

.
A UNESCO já consagrou o Fado como Património Imaterial da Humanidade, dando assim resposta positiva à respectiva candidatura portuguesa. Pouco antes deste reconhecimento oficial conversámos com Pedro de Castro, guitarrista (que costuma acompanhar nomes como Ana Sofia Varela, Ricardo Ribeiro, Kátia Guerreiro ou João Braga) e proprietário da Mesa de Frades, Casa de Fado de Alfama onde se podem ouvir alguns deste fadistas e ainda vozes do calibre de Celeste Rodrigues, Pedro Moutinho ou Joana Amendoeira.


Qual é o seu sentimento em relação a esta possibilidade de o Fado ser considerado Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO?

É um sentimento estranho. Fico muito feliz se ganhar, por haver um reconhecimento internacional de que o nosso Fado é um património que tem uma cultura própria e muito interessante, não só musical como social; porém, infelizmente nos últimos anos tem havido uma quantidade de influências externas ao Fado que têm deturpado esta realidade cultural. O pastel de bacalhau é uma coisa nossa, mas se lhe misturarmos ovas de esturjão e pusermos um ovo de codorniz por cima já não é a mesma coisa. Por exemplo, fiquei muito desgostoso por saber que vai haver agora um espectáculo em Nova Iorque chamado “Os Embaixadores do Fado” que, se no primeiro dia tem uma quantidade de fadistas, no segundo tem os Deolinda e os OqueStrada ou os Amália Hoje, que não são Fado nem gostam de fados mas estão a viver à conta da palavra Fado. A pergunta fundamental que tem de ser feita sobre esta classificação é «Qual é o Fado agora classificado como Património da Humanidade? A Mísia? A Amália Rodrigues? A Maria Teresa de Noronha? Os Amália Hoje? Referimo-nos a quê». Mas fico muito feliz se o Fado, como eu o conheço, for reconhecido pela UNESCO.

Considera, então, existir algum risco de o Fado ficar "misturado" numa secção muito alargada de world music oriunda de Portugal - ou seja, que, estando o Fado em voga e levando este "carimbo", existe um risco acrescido de projectos musicais que já não são Fado se tentarem colar ao Fado para daí ganharem visibilidade, e essa mistura/confusão ser nociva ao Fado genuíno?

Andam a tentar fazer isso (a tentar matar o Fado como ele é) há muitos anos. O Fado vem de uma origem muito pobre e humilde, muito simples de tocar – com a complexidade da simplicidade que tem, sempre teve virtuosos e pessoas que se profissionalizaram, mas na sua génese é uma canção de amadores –, mas a partir da introdução de elementos eruditos e intelectuais (dando até outro nível poético ao Fado) em algo muito popular e amador houve uma dualidade: começaram a surgir “fusões” ou “influências” para camuflar uma certa vergonha que alguns círculos intelectuais tinham do Fado. E é isso que faz com que se tente acabar com a origem. Mas, por mais que se tente matar ou deturpar, é muito complicado porque isto está muito enraizado e foi muito bem feito.

E que mais-valias pensa que esta nomeação pode trazer ao Fado?

Vai trazer visibilidade, sem dúvida. Se 5% ou 10% da população portuguesa presta atenção ao que realmente é Fado, haverá também alguma percentagem da população de outros países que se vai interessar pelo Fado, o que ajudará o Fado a chegar até mais gente.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

PAUS - PAUS


Lenha para queimar os ouvidos

A maior dificuldade em escrever sobre o álbum de estreia dos PAUS é evitar a repetição. Embora este seja apenas o primeiro LP que editam, já muito se disse e escreveu – desde o impacto do EP É Uma Água aos concertos explosivos – sobre a banda formada por quatro letras e outros tantos elementos: Joaquim Albergaria, Makoto Yagu, João “Shela” e Hélio Morais. Podem estabelecer-se comparações com outros grupos ou rebuscar-se referências e influências musicais, mas o que importa, sobretudo, é referir que escutar este disco é um pouco como assistir à combustão de lenha numa enorme fogueira: um acto hipnótico, ao mesmo tempo voraz e criador, que se renova constantemente e dá vontade de voltar a aquecer as mãos nas suas labaredas, isto é, de carregarmos outra vez no play ou de vê-los transpor para os palcos a criatividade capturada em estúdio.
O baixo está ainda maior do que o défice dos PIGS; as baterias soam mesmo como duas gémeas siamesas, unidas nos despiques rítmicos e nos silêncios; e as teclas produzem efeitos especiais que causam reacções em cadeia. Replicam-se também algumas frases (poucas, mas que por vezes dizem muito, como em “Ouve Só” ou num “Malhão” que dança ao sabor dum jogo de desejo e sedução) além dos característicos cânticos. “Tronco Nu” – a última faixa – composta por ritmo, melodia e densidade nas medidas certas, sobreposição de palavras e coros, serve bem de súmula ao que se ouviu atrás. Dos teclados incandescentes de “Ouve Só” à trovoada que martela a cabeça em “Ocre”, há espaço para ambientes entre o psicadélico e o free – "Descruzada" – e músicas (como “Muito Mais Gente”) que ora nos mostram paisagens abertas e luminosas ora nos transportam para horizontes estreitos e sombrios.
Se é nos concertos, sem rede nem truques, que as bandas provam o que valem a sério, tal aplica-se a dobrar (pelo menos) aos PAUS – será ao vivo que este fogo mais crescerá, para chamuscar os ouvidos, numa constante reinvenção sonora. Se eles perguntam «O que queres que diga que estes tambores não digam já?», podemos responder de uma forma tão simples como sincera: o que queremos ouvir é o que estas músicas nos fazem sentir.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Os 10 discos de free jazz que nos foderam os ouvidos


Ornette Coleman - The Shape Of Jazz To Come

Se a liberdade e o improviso estão inscritos no código genético do Jazz, este disco deu passos em frente (grau de improvisação simultânea; papel dos acordes…) em relação à herança recebida, que, ainda assim, não deixa de reflectir. Em comparação com o que Ornette Coleman viria a fazer mais tarde, este até é um disco acessível (com swing e assinalável sentido de melodia), mas ao apontar futuros caminhos tornou-se um trabalho revolucionário no seu tempo e que permanece fundamental nos nossos dias. Temas como “Lonely Woman”, “Peace” ou “Congeniality” – nos solos de Coleman e Don Cherry, mas também nos ritmos cruzados de Charlie Haden e Billy Higgins – fluem como um rio de águas mais ou menos bravas e que não se deixam limitar pelas margens: partem da melodia para serpentear em várias direcções, através de explorações sonoras sem amarras ou rotas pré-definidas. Um pouco como a relação da história para a escrita ou das cordas para o alpinismo - será bem mais arriscado (mas também muito mais gratificante) construir uma narrativa ou escalar uma montanha sem recorrer a estas ferramentas. The Shape Of Jazz To Come foi uma obra-charneira na revolução musical que estava em marcha no espírito do seu autor, como os títulos dos álbuns que este tinha lançado antes (Something Else!!!!; Tomorrow Is The Question!) preconizavam e aqueles que viria a editar depois (Change Of The Century; e sobretudo Free Jazz) haveriam de confirmar.


 .
Participação no artigo colectivo "Os 10 discos de free jazz que nos foderam os ouvidos", publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Entrevista: Diego Armés

.
Canções sentimentais na coroa do rock
Diego Armés começou a tornar-se conhecido do público através dos Feromona, mui recomendável banda que faz do roquenderole a sua bíblia; agora apresenta-se num projecto musical a solo de cariz diferente, mais íntimo e pessoal, cujo disco de estreia está quase a chegar às lojas. As palavras escritas e cantadas (já importantes na banda da qual é frontman, por vezes de tronco nu) vestem-se de outra importância, assumem o protagonismo em canções delicadas – para senhoras, como vem no título do disco – e que não têm medo do ridículo, ou seja, de serem sentimentais, românticas (numa perspectiva luminosa ou sombria), apaixonadas ou melancólicas. Foi sobre os pormenores desta nova pele que está a crescer (mas também de outros assuntos relevantes, como o benfiquismo militante de Diego) que se falou durante um pequeno périplo por sítios que lhe são queridos, todos eles em Alfama, o mais antigo e um dos mais típicos e fascinantes bairros lisboetas.
.
Link para a entrevista integral, publicada originalmente no Bodyspace.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ornatos Violeta: é tempo de espreitar pela fechadura

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este ano cumprem-se vinte anos sobre a fundação da banda de Manel Cruz e Nuno Prata. Separados desde 2002, os Ornatos Violeta editaram apenas um par de álbuns (Cão!, de 1997, e O Monstro Precisa de Amigos, de 1999) durante os anos de actividade, mas deixaram uma forte marca na música portuguesa. E, como forma de celebrar o 20º aniversário da criação da banda e o respectivo impacto, a Universal tem no sapatinho do Pai Natal uma prenda muito especial, com tudo para agradar quer ao caloiro como ao fã mais acérrimo: uma caixa que reúne (quase) todo o material gravado pela banda. Entre a reedição dos dois álbuns acima referidos existe, ainda, lugar para um terceiro tomo composto por inéditos e raridades. Da parte dos temas nunca editados estão canções como “Há-de Encarnar”, “Devagar”, “Como Afundar” e “Rio de Raiva” – das sessões de gravação de O Monstro Precisa de Amigos – e “Pára-me Agora”, extraída das sessões de Monte Elvis (2001), potencial terceiro álbum da banda que nunca chegou a ser editado. Entre as raridades, antes dispersas por compilações, destacam-se “Dez Lamúrias por Gole” – o primeiro registo dos Ornatos, de 1995 –; “Circo de Feras” (versão do tema dos Xutos & Pontapés para o álbum-tributo XX Anos XX Bandas) e “Marta”, lado B do CD-single Ouvi Dizer. Diz que a caixa chega às loja no dia 5 de Dezembro deste ano e que, em Fevereiro de 2012, Cão! e O Monstro Precisa de Amigos vão ser editados, pela primeira vez, em vinil, com edições numeradas e limitadas, de 300 exemplares cada.
 
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

domingo, 13 de novembro de 2011

Ao Vivo: Buraka Som Sistema @ Coliseu

© Mauro Mota
À hora a que lerem este texto já passaram 11 minutos e 11 segundos das 11 horas desta sexta-feira de Novembro (dia 11/11/11). Dizem que o palíndromo de 12 dígitos é perfeito para grandes decisões (os Black Sabbath, por exemplo marcaram uma conferência de imprensa para hoje, prometendo um “anúncio especial”, que parece rimar com regresso oficial…); quem não ligar puto a numerologia sempre pode fixar o momento: parece que outra sequência semelhante só daqui a cem anos. Mas na véspera, em Lisboa, a palavra de ordem foi celebração e não decisão. O novo álbum dos Buraka Som Sistema é como uma Caixa de Pandora versão festa, e quando se abre liberta ritmos e danças de forma contagiante, como um vírus. Milhares de enfermos preencheram o Coliseu, uma massa humana heterogénea, unida pela vontade de partilhar momentos na companhia de uma banda portuguesa que não se preocupa com rótulos nem fronteiras. A entrada em cena dá o mote para um espectáculo montado ao pormenor, mas sem perda de espontaneidade. Eficácia meets inspiração e muita transpiração. Nos ecrãs laterais a vida surge presa por um fio, uma pulsação apenas nos separa da morte; mas, à medida que o ritmo aumenta, o brilho afasta a escuridão e o calor faz esquecer o frio invernal, fazendo os corpos despertar da letargia. Grande intro para um single-bomba de Komba: “Hangover (BaBaBa)”, pois, com Blaya – de shorts justos e capa vermelha, como uma provocante Super-Mulher –, Kalaf e Conductor a juntarem-se a Fred, Riot (bateria siamesa tipo Buraka) e J-Wow. Podem começar os tumultos no movimento Occupy Coliseu, com lugar a derivações dubstep. Estamos no Coliseu dos Recreios, mas podíamos estar num clube enorme ou num festival a céu aberto, que não há colete-de-forças para conter a energia espalhada pelo palco e pela plateia.
.
Link para o report integral, publicado originalmente no Bodyspace.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Disco: Komba - Buraka Som Sistema


As periferias ao centro

Num tempo em que a globalização (musical) tantas vezes rima com repetição e em que os sons comprimidos no formato mp3 se acumulam num amontoado indistinto de ficheiros, como agulhas perdidas num palheiro gigantesco, apetece perguntar: serão as periferias o último reduto da criatividade, a derradeira réstia de território menos explorado? Sejamos sinceros. Nunca deram por vocês a pensar que uma grande percentagem das bandas que por aí se ouvem (das comercialonas às indies – termo que deveria ser banido ou substituído, por ter perdido o significado, de tão abusado e tantas vezes repetido sem nexo) soam todas ao mesmo? Nos grandes centros mediáticos, o excesso de atenção cria e destrói fenómenos à velocidade com que o Messi deixa adversários pelo caminho, impedindo potenciais novos estilos ou tendências prematuras de saírem da incubadora; e raramente há tempo para amadurecerem. O que já não se verifica tanto em Luanda, no Mali (não será por acaso que membros de Tv On The Radio participaram no último álbum dos enormes Tinariwen) ou Lisboa.
E os Buraka Som Sistema são uma prova-viva disto. Partiram duma base musical surgida em Angola e trabalharam-na duma forma que, como os próprios afirmam, apenas poderia suceder na capital portuguesa. Se em From Buraka To The World, ou mesmo ainda em Black Diamond, o rótulo do “kuduro progressivo” lhes surgia colado com alguma naturalidade, Komba confirma que a capacidade deste colectivo em absorver as mais díspares influências é uma ferramenta para criar algo novo e seu, com potencial explosivo para agitar ainda mais as pistas de dança e os palcos internacionais. E só isso explica que, entre tantas colaborações e estilos presentes neste disco – laivos de kuduro, sim, mas também moombahton e diversas outras tendências electrónicas –, seja possível manter-se intacta a identidade autoral da banda, agora reforçada pela presença de Blaya.
Desde o Alô ouvido em “Eskeleto” até à despedida, feita com “Burakaton” (exercício lascivo na companhia dos colombianos Bomba Estéreo), Komba é festa selvagem e sem concessões, daquelas que só acabam depois de os vizinhos chamarem a polícia. Há singles que são o equivalente sonoro da dinamite – a trepidante “Hangover (BaBaBa)” ou o hino imediato “(We Stay Up) All Night” –, espaço para se aproximarem do formato canção (na magnética “Voodoo Love”, com as participações de Sara Tavares e da jamaicana Terry Lynn) ou para virarem o feitiço contra alguns feiticeiros em “Lol & Pop”, reflexão onde respondem a certas críticas com sentido de humor. Momentos menos inspirados são poucos (“Vem Curtir” ou “Hypnotized”), e quase passam despercebidos no meio de tantos motivos para celebração. Mais pagão do que religioso, este Komba é um ritual que vamos repetir muitas vezes.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Entrevista: Buraka Som Sistema

.
A caminho dum som tipo Buraka
.
Após Black Diamond ter sido objecto de garimpeiros um pouco por todo o mundo, é tempo de Komba (ritual religioso angolano que tem tanto de celebração como de tristeza) abrir um novo capítulo e alargar horizontes para aquela que será já a mais internacional das bandas portuguesas da actualidade. São de Lisboa, mas o som que praticam é para todos os que gostam de fazer a festa, em clubes de Luanda ou Budapeste, em concertos no Brasil ou nos Estados Unidos. Com os Coliseus de Lisboa e do Porto a servirem de arranque à apresentação do novo álbum, durante este mês de Novembro, apanhámos os Buraka Som Sistema a meio de intensa actividade promocional. A palavra ao mestre-de-cerimónias Kalaf sobre o presente momento de um grupo que não cria música com o intuito de representar as Nações Unidas da música electrónica, mas sim com a vontade de encontrar algo que seja genuinamente um som Buraka Som Sistema. Fazendo música livremente.
.
Link para a entrevista integral, publicada originalmente no Bodyspace.

sábado, 5 de novembro de 2011

A banda sonora do Lisbon & Estoril Film Festival’11

.
Nesta quinta edição, a decorrer entre os dias 4 e 13 de Novembro, o festival de cinema dirigido por Paulo Branco alarga horizontes para Lisboa; e fá-lo ao mesmo tempo que celebra a transversalidade com as outras formas de criação artística e se afirma como um espaço de reflexão e debate dos temas que definem a agenda cultural contemporânea. A música estará, assim, presente no LEFFEST sob várias formas. No Simpósio Internacional “Os direitos de autor na era da Internet: que futuro para as indústrias culturais? (a decorrer nos dias 11 e 12 de Novembro no Centro de Congressos do Estoril) uma das mesas-redondas ser-lhe-á dedicada, contando-se com as presenças de músicos como Adolfo Luxúria Canibal, Sophie Auster ou Paulo Furtado aka Legendary Tiger Man. Haverá, também, lugar para concertos e dj sets, diversificados nas sonoridades e nos espaços em que vão decorrer.

Dia 5: DJ Set de Randall Poster (supervisor musical de filmes como Zodiac, Velvet Goldmine ou Kids) no Lux, pelas 24:30;

Dia 7: Concerto do violinista Gidon Kremer e do violoncelista Giedre Dirvanauskaite, apresentando obras de Poleva, Kancheli, Bach e Gubaidulina, no Centro Cultural de Belém, pelas 21 horas;

Dia 10: Concerto de Sophie Auster (filha de Paul Auster, escritor e realizador presente no Simpósio Internacional do LEFFEST, do qual integrará também o júri) no Lux, pelas 22 horas;

Dia 11: Concerto de Para One (o francês Jean-Baptiste de Laubier, realizador e produtor de música electrónica, que já remisturou Daft Punk, Justice ou Boys Noize) + Logo – dupla parisiense de electro, composta por Hugues Tonnet de Parrel e Thomas Desnoyers, apresentada como um dos mais promissores projectos da editora Kitsuné – no Lux, pelas 23 horas.

Para quem quiser perder-se e encontrar-se entre antestreias, homenagens e retrospectivas, fica o site do Lisbon & Estoril Film Festival´11.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A música de Aguardela na apresentação da biografia Esta Vida de Marinheiro

.
A biografia oficial de João Aguardela foi lançada no passado mês de Setembro, e desde então tem sido apresentada em vários pontos do país. Sessões que, de acordo com o jornalista Ricardo Alexandre, autor da obra, «Correram muito bem. Tivemos casa cheia em Lisboa e no Porto e também uma sessão bastante especial em Tires, no Desportivo Monte Real, que era o clube do João».


Chega agora aquela que será, em princípio, a última apresentação do livro, a ter lugar no Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco, no próximo dia 5 de Novembro. Nessa data e local, Ricardo Alexandre irá passar música dos diversos projectos em que o músico falecido em 2009 esteve envolvido, como Sitiados, Megafone ou A Naifa.

Sobre ”João Aguardela – Esta Vida de Marinheiro", editado pela QuidNovi, Ricardo Alexandre adianta ser «Um livro sobre um amigo que foi um músico excepcional e que traz o testemunho daqueles que com ele se cruzaram».

“Como um raio a rasgar a vida / Como uma flor a florir desmedida / Como uma cidade secreta a levantar-se do chão / Como água, como pão / Como um instante único na vida / Como uma flor a florir desmedida / Como uma pétala dessa flor a levantar-se do chão / Como água, como pão / Assim nasceste no meu olhar, assim te vi / Flor a florir desmedida / Assim te vi, a rasgar a vida”

.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Ao Vivo: PAUS @ Lux

.
No início do mês os PAUS anunciavam no seu facebook que já sabiam tocar mais de metade do disco novo. E o Lux seria o local indicado para comprovar o progresso dos últimos ensaios, festejando a aguardada edição do homónimo LP de estreia, sucessor dum EP que agitou águas e cinturas. A longa fila formada antes de as portas da discoteca de Santa Apolónia se abrirem reflectia o entusiasmo hoje existente em redor da banda da “bateria siamesa”, que aos sacos e t-shirts juntou um mikado como original objecto de merchandise.
.
Link para o artigo integral, publicado originalmente no Bodyspace.

Dead Combo - Lisboa Mulata


MulatiCidade

Quantas cidades cabem em Lisboa? Quantos aromas e formas, sabores, tons de pele e sons, carpidos e escutados? Possivelmente tantas quantas as viagens trágico-heróicas que ajudaram a construir e desfazer um Império, de que somos causa e efeito. Uma teia de gestos e cinzas que, à bruta ou por amor, misturou gentes e culturas, criando algo que hoje em dia está muito em voga classificar como “lusofonia” aka conjunto de identidades culturais existentes nos países onde se fala a língua portuguesa e em diversas comunidades espalhadas pelo mundo. Sim, é bom lembrar - mais a mais numa época em que se discutem eurobonds e os "trabalhadores povos do Norte" encostam os "mandriões do Sul" à parede - que podemos ter raízes europeias, mas a nossa identidade e maior riqueza se encontram espalhadas (e espelhadas) por África, Brasil e outras paragens...
E se Lisboa Mulata não se deixa confinar pelas balizas lusófonas (continuam a avistar-se cowboys; em “Ouvi o Texto Muito ao Longe” Camané parece sussurrar as palavras escritas por Sérgio Godinho na vastidão de uma qualquer pradaria norte-americana), nunca essa miscigenação que desembocou no melting pot contemporâneo terá estado tão presente na música de Dead Combo. A faixa-título abre o disco em passo estugado, que nos faz percorrer diversas latitudes culturais da capital; balanço renovado na esquina em que se descansa a beber umas cervejas frescas na companhia de uma gulosa cachupa, antes de voltar a incendiar os sentidos ao sabor de uma morna. A “portugalidade”, tão cara em tempos de crise, também continua vincada, no jeito subversivo (e genial) de descambar com uma marchinha de Santo António (no que contam com a colaboração do enorme Marc Ribot, cuja inspiração haviam já homenageado em Vol. 1) ou no quase fado encantatório de “Esse Olhar Que Era Só Teu”.
Com os pés assentes no rectângulo, onde bebem referências íntimas e exóticas, mas de olhos e espírito além-fronteiras, Tó Trips e Pedro Gonçalves continuam a construir um universo particular (único, genuíno) que pode ser apreciado com os cinco sentidos - e noutros tantos continentes.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Entrevista: Dead Combo



Uma cidade com janelas abertas para o Mundo

A Lisboa Mulata saiu à rua há pouco tempo, para arrasar na sua primeira festa, e faz-nos bailar neste estio prolongado de Outubro, em que a tardes abrasadoras se sucedem noites amenas. Traz-nos aromas de África e ritmos do Brasil, além dos ambientes de outras paragens que fazem do duo formado por Pedro Gonçalves e Tó Trips um projecto com uma vocação cada vez mais universal. O “gangster” Pedro Gonçalves fala-nos do caldeirão cultural que se pode ouvir (e sentir pulsar) nesta cidade mestiça, por onde passam pessoas e influências de todos os continentes. E como os Dead Combo gostam de subverter a música e os músicos, oferecem-nos a oportunidade de escutar Camané no papel de diseur ou Marc Ribot (uma referência essencial para estes dois portugueses) tocar – e des(cons)truir – uma marcha popular imaginária. 
.
Link para a entrevista integral, publicada originalmente no Bodyspace.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Legendary Tiger Man / Guta Naki @ Sintra Misty

© Mauro Mota
Este Festival da Música e das Palavras decorreu entre os dias 13 e 23 de Outubro. Deveria ser, portanto, um evento outonal, reflexo do seu espírito intimista. Mas numa altura em que as estações do calendário não encontram grande correspondência na realidade, o Sintra Misty começou no Verão (com temperaturas a rondar os 30 graus e chinelos enfiados nos pés) e terminou no primeiro dia de Inverno, marcado por fortes vendavais e chuvadas a pedirem galochas.
.
Link para o artigo integral, publicado originalmente no Bodyspace.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Orelha Negra: 2012 vai trazer charters de novidades

.
2012 está a chegar, e com ele novidades para os Orelha Negra: além de já haver concerto marcado para o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém no dia 21 de Janeiro (os bilhetes para o espectáculo, que integra o ciclo CCBeat, foram hoje postos à venda), a all star band de Sam the Kid, Fred, Francisco Rebelo, João Gomes e Cruzfader deverá editar o sucessor do aclamado álbum homónimo, lançado em 2010. De salientar, ainda, que os Orelha Negra foram convidados para integrar a comitiva de bandas que representarão Portugal no Canadian Music Week – este evento, que funciona simultaneamente como festival, espaço de negócios e discussão sobre música, terá Portugal e Espanha como países em destaque no ano em que celebra a sua 30ª edição –, a realizar-se entre os dias 21 e 25 de Março do próximo ano, na cidade de Toronto.
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais precisamente aqui.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Telediscos Para Senhoras

O frontman dos Feromona está prestes a estrear-se com um disco a solo. Canções Para Senhoras deverá chegar às lojas durante o próximo mês de Novembro, mas já existem dois telediscos (um experimental, outro oficial) que alimentam a curiosidade sobre o que aí vem. Melhor do que descrever os vídeos é deixar o próprio Diego Armés falar um pouco sobre os mesmos e levantar a ponta do véu sobre o álbum.
.
.
«O primeiro vídeo, “O Fim da História”, é um exercício do Francisco Santos Silva, da Chifre, que, cansado de ver no YouTube aqueles vídeos em que umas letras manhosas se sobrepõem a uma imagem estática – porque são feitos por malta que gosta das canções mas que não tem como realizar um vídeo em condições –, decidiu pegar num filme já muito antigo e editar uma série de sequências de maneira a encaixá-las na música. Pessoalmente, acho que o resultado foi extraordinário. As imagens são super elegantes, aquele registo antigo é cheio de charme e tudo isso tem a ver com o tema fundamental do disco: a mulher ou o mundo e a mulher ou eu num mundo que contém mulheres.»
.
.
«O teledisco da canção-single, “Canção Sentimental”, foi uma coisa mais séria, muito mais séria. Reunindo pessoas cheias de boa-vontade, muita criatividade e algum material, conseguiu-se chegar a um resultado que me orgulha muito. Uma vez mais, há charme feminino, há pose, há glamour. A realização é do Filipe Fernandes, numa produção dos Picos Gémeos e da Chifre. Pudemos contar ainda com a generosidade do Hotel Grande Real Villa Itália, em Cascais, que nos deixou ocupar uma suite presidencial onde todo o vídeo foi filmado – isto durante um dia inteiro (e com direito a refeições para toda a equipa). O que mais me impressiona neste vídeo é o facto de ter sido feito sem dinheiro, só com dedicação e amizade, e de ter resultado num produto final com um aspecto tão sério. Estou muito grato a todos os que participaram nele.»
.
Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Ao Vivo: Mazgani / Dead Combo @ Sintra Misty

© Mauro Mota
.
O característico som de um amolador anuncia a chegada dos Dead Combo. E logo que a Mulata entra em palco começa a acelerar nas cordas das guitarras, percorrendo as ruas de Lisboa de forma gingona – só é pena as cadeiras do Olga Cadaval não serem muito propícias à dança… “Cachupa Man” também tem um travo mestiço, e volta a demonstrar como Pedro Gonçalves e Tó Trips articulam na perfeição som e imagem. O jeito imperturbável do gangster e o carácter mais soturno do cangalheiro, subvertendo géneros musicais e criando narrativas sem legendas, numa tridimensionalidade cinemática que dispensa a utilização de óculos especiais. Após “Anadamastor”, com direito a dedicatória especial, resgatam “Rumbero” ao primeiro álbum, num concerto dominado por composições do recente Lisboa Mulata – a “Aurora em Lisboa” chega-nos desde um hotel com néon invertido; “Esse Olhar Que Era Só Teu” faz-nos fechar os olhos para melhor apreciar esta belíssima aproximação ao fado; e “Blues da Tanga” solta um lamento furioso –, mas que permite incursões ao passado (de “Putos a Roubar Maçãs” ou “Sopa de Cavalo Cansado”, que mostra dois puros-sangue bem enérgicos nos ritmos produzidos) e a versão para “Temptation”, de Tom Waits, que puxa pelo fôlego de Pedro Gonçalves.
.
Link para o artigo integral, publicado originalmente no Bodyspace.

Consagração da Reserva Mundial de Surf da Ericeira

.
De acordo com o dicionário, uma das possíveis definições para a palavra “consagração” é “Ato de tornar sagrada alguma coisa, dedicando-a ao culto divino, a Deus”. Se encararmos as ondas como templos de culto e o bodyboard como religião, poderemos compreender melhor o que se passou ontem na Ericeira. Após a apresentação da candidatura a Reserva Mundial de Surf, que conduziu à respetiva aprovação em fevereiro deste ano, chegou o dia 14 de Outubro, data marcada para a cerimónia de consagração.

Poderia ser uma manhã igual às outras em Ribeira d’Ilhas, onde ainda de noite já muitos aguardavam os primeiros raios de sol para entrar na água; mas ontem havia um objetivo extra em relação ao ato de deslizar nas ondas: prestar homenagem ao conjunto de sete maravilhas que compõem a primeira Reserva Mundial de Surf europeia e apenas a segunda a nível global. E é sempre especial ver bodyboarders e surfistas unidos por algo maior do que a vontade de apanhar ondas, parando de remar para se juntarem em círculo, numa sentida homenagem às suas companheiras aquáticas. Por incrível que pareça, durante esses minutos não entraram ondas na chamada “sala de visitas” do surf nacional, com a lua, bem redonda, a abençoar a ocasião solene.

Mais do que uma meta, esta data implica um ponto de partida para melhor se promover e – sobretudo – preservar estas ondas de caraterísticas e qualidade ímpares, tal como foi reconhecido por diversos intervenientes na cerimónia mais (ou menos) formal que teve lugar, um pouco mais tarde, no Parque de Santa Marta.

Antes da apresentação do booklet “Ericeira, Reserva Mundial de Surf”, procedeu-se à entrega, por parte de Will Henry (fundador da Save The Waves Coalition, a “mãe” das Reservas Mundiais de Surf) da placa comemorativa ao trio de instituições que desempenhará o papel de Stewardship Council: a Câmara Municipal de Mafra, o Ericeira Surf Clube (ESC) e a Associação dos Amigos da Baía dos Coxos.

Fica, porém, uma nota negativa. Entre as personalidades nomeadas como Guardiões da Reserva (a quem caberá zelar pela salvaguarda dos valores ambientais subjacentes) não figura qualquer bodyboarder, o que na perspetiva de Miguel Barata, Presidente da Assembleia Geral do ESC, "é inexplicável, até porque algumas das ondas da Reserva são surfadas principalmente por bodyboarders, já para não falar da tradição que este desporto tem na Ericeira. Esta nomeação foi realizada um pouco à revelia dos bodyboarders, o que até fez com que na cerimónia realizada dentro de água apenas tenham participado dois bodyboarders (nota: além de Miguel Barata, marcou presença Paulo Costa, Presidente da Associação Portuguesa de Bodyboard), porque muitos dos outros estavam em protesto. Uma Reserva Mundial de Surf não se restringe ao surf, abrange todos os desportos de ondas."
.
Publicado originalmente na Vert, mais concretamente aqui.

Artigo Colectivo "DFA: Dez Felizes Anos" - The Rapture: Echoes

.
Se os nova-iorquinos The Rapture têm uma grande dose de responsabilidade no revivalismo pós-punk que marcou o início dos anos 00, boa parte dessa culpa encontra-se distribuída pelas faixas deste álbum. Echoes mistura electricidade com electrónica e fortes ritmos de dança (tirando um ou outro momento de calmaria, como ”Infatuation”), muitas vezes duma forma extática – aliás, uma das possíveis traduções para o nome da banda refere-se aos estados de alegria, êxtase. São essas as emoções veiculadas por “House of Jealous Lovers” (que se tornou hino estival) ou ”Killing”. Os seus ritmos contagiantes e carregados de aditivos puseram o rock a rollar e fizeram-no tirar as mãos dos bolsos e mexer, mostrando que o DIY podia funcionar tão bem no início do século XXI como tinha explodido algures nos anos 70. Isto é música que funciona tão bem num concerto como na pista de dança (sempre para dançar sem vergonha) ou mesmo na aparelhagem, se quisermos ganhar pica para as duas primeiras hipóteses.
.
Publicado originalmente no artigo colectivo "DFA: Dez Felizes Anos", primeiro no Bodyspace e depois no P3.