quinta-feira, 30 de junho de 2011

Entrevista: DJ Ride


O Bodyspace aproveitou a actuação de DJ Ride no Music Box, no dia 21 de Outubro, para lhe colocar algumas perguntas, não apenas sobre questões presentes como sobre ideias futuras. Ouve-se o réu e levanta-se o véu.

Neste evento houve um live act seguido dum dj set. E dentro de cada performance, assistiu-se à fusão dos elementos musicais mais variados. É tudo hip hop, afinal de contas, mesmo quando cruzas dubstep com jazz, ou partes de Aerosmith para uma digressão sonora ou cruzas reggae com drum n' bass?
Sim, para mim continua a ser hip hop, pela nossa abordagem e pela maneira como misturamos os estilos. Principalmente através do turntablism que está sempre presente em tudo o que fazemos, e de uma maneira mais activa nos live acts.

Live act vs dj set. O que te dá mais pica? Qual em que te sentes mais livre?
Gosto mais dos live acts porque tem outro sabor especial tocar as nossas próprias musicas/criações, e ver em tempo real as reacções das pessoas às melodias que criamos no quarto. Devido ao equipamento que utilizo e à fusão entre o analógico e o digital, sinto que tenho igual liberdade quer nos live acts quer nos dj sets, que se têm aproximado cada vez mais de live’s também, devido a fazer loops e sampling em tempo real e ao uso também de scratch e routines próprias.

O Stereossauro é como um pai para ti ou o aprendiz já ultrapassou o mestre?
Não o vejo como um pai mas sim como o meu melhor amigo; é tipo o irmão mais velho que nunca tive. É a minha maior influência e o partner ideal na crew BeatBomber's, que temos mantido activa há já 6 anos.

Picardias de scratch e MPC entre ti e o Stereo. Quão desafiador e ao mesmo tempo enriquecedor sentes que são para ti?
O desafio é semelhante aos solos e improvisação que vês por exemplo no free jazz. Para mim. nos nossos live acts tentamos sempre ter esse lado de improvisação. Se tivéssemos as coisas demasiado rígidas no que diz respeito ao alinhamento ou performance, acabaríamos por nos fartar.

Música de Carlos Paredes do Stereo – Verdes Anos Remix. Opinião? Já fizeste ou pensas fazer algo do género, como fervoroso adepto do digging e reciclador de referências estéticas?
A minha opinião é que é genial, e talvez o momento do Stereossauro mais inspirado até hoje. O vídeo fala por si. Ainda não fiz nada do género bom o suficiente para poder mostrar.


Projectos futuros? Podes levantar um pouco o véu?
Estou a pensar fazer um EP para Março, com um single forte ai com uma voz bem conhecida, digital, download gratuito na minha página. Temos também outro Scratch Tool praticamente acabado, vinil claro, entre outras coisas. E sobretudo trabalhar mais a nível dos dj sets e performances. Haverá ainda mais novidades em breve.

Pubicado originalmente no Bodyspace, mais precisamente aqui.

Entrevista: PAUS

Os PAUS encerraram na última Quinta-Feira o ciclo de concertos “Só Desta Vez”, em que partilharam o palco com vários special guests que os ajudaram a criar um trio de noites irrepetíveis. Minutos após a derradeira vez, falámos com Hélio Morais e Joaquim Albergaria no estacionamento do Lux. Encostados à carrinha da banda e com vista para o Tejo, reviu-se o presente e projectou-se o futuro próximo da banda.

Foi o último “Só Desta Vez”. Chegados ao fim deste ciclo o que sentem? Fica um certo vazio? 
Hélio Morais: Acho que é sentires que te propuseste a um projecto e o conseguiste realizar e te divertiste a realizá-lo e divertiste as pessoas também. Mas, sim, há bocado estava a olhar para as t-shirts e estava a pensar «é a ultima vez que vai haver t-shirts destas».

É uma sensação de realização…
Joaquim Albergaria: Sim, misturado com um certo alívio, porque este projecto obrigava-te a quase refazeres a banda a cada data. De repente metes um músico novo e tens que refazer as músicas todas.


Hoje tocaram com o Chris Common e os Tocándar. Como é que foi tocar com um baterista que é uma referência para vocês e que, 30 minutos depois do concerto terminar, continuava a transpirar?
Hélio Morais: Eu fartei-me de ouvir discos de These Arms Are Snakes, portanto até é esquisito; parece que já adivinhava quais eram os breaks que ele ia fazer a seguir. Tem uma pitada de estranheza mas depois habituas-te, deixa de ser o gajo que tu ouvias e passa a ser o amigo que está no estúdio contigo.

Joaquim Albergaria: a melhor comparação para tocar com o Chris é seres o único branco no chuveiro depois dum treino de basket da NBA. Tipo: vou fazer outra coisa… se calhar, roadie, roadie dele!

Em relação aos Tocándar, como é que vos surgiu a ideia de tocar com um projecto de percussão tradicional portuguesa e como chegaram ao contacto com eles?
Hélio Morais: No “Só Desta Vez” quisemos abordar em cada uma das sessões as três vertentes mais fortes de PAUS. Primeiro as guitarras, a vertente mais rock e também a harpa. Depois, na segunda, a parte mais electrónica com os djs; e a terceira teria que ser necessariamente pecussão. O Chris, curiosamente, acabou por ser decidido depois dos Tocándar. Na altura fizemos uma pesquisa de grupos como os Tocándar, e eu julgo que foi o Tiago Pereira (cineasta) que os sugeriu ao Quim.

Este projecto “Só Desta Vez” terminou, em termos de concertos. Os momentos irrepetíveis vão-se perpetuar de alguma forma?
Joaquim Albergaria: Os três concertos e todos os ensaios para os concertos estão gravados em vídeo, e os concertos estão gravados em áudio. Está na calha a edição dum documentário e há ideia de lançarmos isto em disco também. Vamos ouvir com calma o que fizemos, se está bom ou mau, e ver o que conseguimos fazer com aquilo. Mas é para imortalizar, para ter ali um Polaroid para nos lembramos disto.



O ciclo “Só Desta Vez” resultou muito bem. Ficaram com vontade de, no futuro, voltarem a fazer uma nova experiência do género?
Hélio Morais: Quando corre bem ficas sempre com vontade, mas se calhar faz mais sentido fechar aqui o ciclo. Agora é PAUS. Terminar a gravação do álbum…

Joaquim Albergaria: Temos um espectáculo de teatro no CCB com o André Teodósio, que vai começar no dia 29 de Março.

Existe data prevista para o lançamento do álbum?
Hélio e Quim: Depois do Verão.

Publicado originalmente no Bodyspace, mais precisamente aqui.

Ao Vivo: PAUS - Só Desta Vez @ Lux - 16/12/2010


Comecemos pelo fim, como num romance surrealista. Alguns minutos depois de ter acordado, com o espectáculo da véspera ainda bem presente, pensei: «Acho que sonhei que o (Mário) Cesariny estava no piso de cima a deixar a sua marca no placard da Delta Q», sponsor da série de concertos “Só Desta Vez”, em que os PAUS convidam amigos para actuações únicas. Será que este sonho aconteceu mesmo? Ou fui sugestionado pela carga onírica da performance? Ou pelo facto de me ter cruzado com o Mestre Júlio Pomar, nas escadas de acesso ao 1º andar da discoteca de Santa Apolónia, antes de o show começar?
Isso acaba por ter pouca importância para quem viu um dos (seus) concertos do ano – a propósito, será que o Bodyspace não arranja um cantinho para se fazer uma adenda aos meus momentos de 2010?

Link para o artigo completo.
Publicado originalmente no Bodyspace.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Lançamento do site da Videoteca Bodyspace + 10 anos da Clean Feed = Festa Ao Quadrado



O Bodyspace comemorou na passada sexta-feira o lançamento do site da sua videoteca, espaço para os músicos porem as suas criações em movimento. Como não queríamos deixar de nos associar ao 10º aniversário da Clean Feed (que, a partir de Lisboa, se tornou numa das mais relevantes editoras de jazz mundiais), o palco escolhido foi a Trem Azul, no Cais do Sodré. E os Compêndios de História rezarão assim sobre esta festa: Onde há fumo, há fogo, costuma dizer-se; e o serão abre com projecções incandescentes, tal como a música dos Pão. Experimental e ritualista, feita de círculos que se alargam em ondas sonoras. De seguida, os Sunflare trocaram o magma por raios e trovões que inundaram o céu da Trem Azul com a brusquidão duma tempestade sobre o mar. Improvisação e electricidade de uma ponta a outra. O resto da noite… bem, os DJs Bodyspace esbanjaram charme pela pista de dança, com malhas mais ou menos ortodoxas para os ouvidos dos melómanos presentes. Afinal, It Was Friday, Friday, Gotta Get Down On Friday…


Publicado originalmente no Bodyspace, mais precisamente aqui

Júlio Resende Trio - You Taste Like a Song


«A que sabe a canção? A que sabe a música?» – as perguntas surgem das entranhas deste CD, e as respostas vão-se formando através das suas nove faixas. "Silêncio – For The Fado" inaugura o registo do trio encabeçado pelo pianista Júlio Resende, começando a levantar a ponta do véu. O tema começa calmo para depois abrir, uma e outra vez, como uma flor que rompe sedenta de vida, anunciando a Primavera de Bill Evans. A introdução de "Um Pouco Mais de Azul" partilha desta poesia, mas logo a composição se desdobra em arranques intercalados por pausas que sugerem uma dança entre os instrumentos. O tema-título aponta à dualidade do álbum, síntese entre lirismo e pujança. A composição, enérgica, é conduzida pelo piano mas a bateria de Joel Silva e o contrabaixo de Ole Morten Vagan marcam os compassos. "Hip-Hop Du-Bop" é outra das composições vibrantes. A bateria arrisca o efeito scratch e assistimos a uma disputa amigável entre groove e melodia. 

You Taste Like a Song vive também da abordagem a temas de outros compositores. A riqueza dos Radiohead constitui um factor de atracção para quem se move nos territórios da música experimental/improvisada, sucedendo-se versões das suas músicas. "Airbag" revela-se fiel ao espírito da composição original sem a mimetizar. O contrabaixo introduz nuances nas transições e o diálogo estabelecido com o piano faz a música progredir numa narrativa não-linear. Em "Who Did You Think I Was" (original de John Mayer) um baixo fortíssimo espera-nos logo à entrada, e juntam-se a ele o piano e a bateria – também em fúria – para comporem um tema pleno de garra, mais emotivo que racional. Para fechar, "Straight No Chaser". O standard surge vigoroso, com uma percussão quase tribal a abrir. Thelonious Monk foi um inovador do piano, com um approach invulgar – forte, tenso – do instrumento, que percutia como se fosse um tambor. E o trio de Júlio Resende mostra-se digno do legado deste e de outros mestres. A sua música sabe a amor e fúria, arrebata-nos a alma e mexe com o corpo.



Publicado originalmente no Bodyspace: artigo colectivo Clean Feed, 10 anos: improvisação sem limites.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A guitarra de Paredes para o Mundo


Blitz avançou que a editora Drag City (casa de artistas como Bill Callahan, Pavement ou Joanna Newson) se prepara para lançar, até ao final do ano, dois álbuns fundamentais do Mestre da guitarra portuguesa Carlos Paredes. Movimento Perpétuo e Guitarra Portuguesa serão lançados em vinil para o mercado internacional, em edições que, de acordo com Fred Somsen - o português que dirige a Drag City na Europa a partir de Londres -, serão o mais fiel possível às versões originais.

A ideia para esta reedição terá surgido em 2006, quando Somsen levou Dan Koretzki (um dos patrões da editora) às compras em Lisboa, sugerindo-lhe a compra de discos de Carlos Paredes, e o contrato para o lançamento internacional foi concluído há um mês.
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

Filho da Mãe mostra o seu Palácio acústico

Filho da Mãe (a nova face de Rui Carvalho, dos If Lucy Fell, I Had Plans e Asneira) é autor de Palácio, um dos discos a merecer atenção neste ano que vai a meio. Do pós-hardcore para a guitarra acústica, numa aventura a solo. Convida-nos para o seu palácio, numa tripla visita que passará por Lisboa, Braga e Porto entre os dias 19 e 26 deste mês, ou seja, de Domingo a Domingo. Começa no dia 19 de Junho, ao fim do dia, no Clube Ferroviário, chega a 25 ao Auditório Sá de Miranda, de Braga, terminando na Invicta (Bodyspace Au Lait) a partir das 19 horas do dia 26.

Uma das músicas a ouvir nestas três datas será "Encontrei os teus dentes". Fiquem com o vídeo – duma sensualidade filha da mãe! – realizado por John Filipe.


Publicado originalmente no Bodyspace, mais precisamente aqui.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Reserva Mundial de Som

Com a aproximação do Verão sucedem-se os festivais da praxe. Uns urbanos, outros na praia ou no campo, alguns mais de massas do que outros. Apenas o Sumol Summer Fest se realizará numa Reserva Mundial de Surf.
Nos dias 24 e 25 de Junho, pelo parque de campismo da Ericeira – vila onde o mar é mais azul e as ondas para Homens de barba rija – passarão corpos abençoados pelo Sol (ou pelas carismáticas néboas, conforme os desígnios de S. Pedro) e cinco continentes de tendências musicais. Da Nova Zelândia chegam os Fat Freddy’s Drop e da Nigéria Nneka; Israel estará representado por Guy Gerber e a Jamaica por Anthony B. Portugal – ainda pertencemos à Europa, certo?! – terá em DJ Ride (na companhia de Stereossauro e Sagas), Cacique 97 e Freddy Locks alguns dos seus protagonistas.
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Publicado originalmente no Bodyspace. Mais precisamente, aqui.

Entrevista: José Mário Branco

Na Quarta-Feira, dia 15, começa o Festival Silêncio, conforme já foi anunciado aqui no Bodyspace. Para inaugurar a vasta programação, José Mário Branco (e Camané, acompanhados por Carlos Bica, José Peixoto e Filipe Raposo) apresentam o espectáculo Música de Palavra(s) na Sala 1 do Cinema São Jorge. Promete-se «um jogo de tensões entre o silêncio e os sons, no espaço e no tempo cénicos, que é o apanágio da canção poética». Bom pretexto para irmos conversar com o cantautor de origem portuense, cuja extensa obra musical não se limita ao incontornáveis Mudam-se Os tempos, Mudam-se As Vontades ou o bem actual FMI. Em discurso directo ao assunto, muita música (utilizada ou não como arma) e uma boa dose de consciência política. Embora já não tenha 37 anos, José Mário Branco continua «muito mais vivo que morto». Podemos contar com ele para cantar e para o resto.
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Link para o artigo completo, com a entrevista a José Mário Branco.
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Publicado originalmente no Bodyspace.

terça-feira, 14 de junho de 2011

A Palavra é a Capital do Festival Silêncio

Costuma dizer-se que a pena é mais forte do que a espada. Pois, o Festival Silêncio, inserido nas Festas de Lisboa, promete cortar a direito entre os dias 15 e 25 deste mês. Pelos palcos do Cinema São Jorge e do Musicbox vão passar dezenas de projectos de importantes artistas nacionais e estrangeiros que cruzam a palavra dita com a música, a performance e o vídeo/cinema.
Com uma programação tão vasta, mais vale aconselhar a consulta do site do festival. Ainda assim, destaques para os espectáculos de Lee Ranaldo (sim, esse mesmo, dos Sonic Youth), Arnaldo Antunes, Adolfo Luxúria Canibal (com “Estilhaços de Mário Cesariny”), “Música de Palavra(s)” de José Mário Branco, com a participação de Camané, entre outros, “Palavras do Fado”, com António Zambujo, Cuca Roseta, Raquel Tavares, Ricardo Ribeiro e vídeo de Tó Trips e, ainda, “Moradas do Silêncio”, homenagem a Al Berto, com Sérgio Godinho, Rui Reininho, JP Simões, João Peste, Noiserv e Miguel Borges.
A literatura também vai estar representada, com lançamentos de livros, debates temáticos entre escritores de diferentes gerações e nacionalidades, e a sétima arte trará Word Cut Dogs (mostra de documentários sobre escritores portugueses, de Cesariny a Lobo Antunes, passando por Sophia de Mello Breyner), uma selecção dos melhores vídeos do Festival de Poesia e Cinema de Berlin e, ainda, “Filmagens” – concurso internacional de Poetry Film.
Não vale a pena gastar mais latim.
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Publicado originalmente no Bodyspace. Mais precisamente, aqui.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Entrevista: Manuel João Vieira

Foto de Mauro Mota

Os Corações de Atum apresentaram-se pela primeira vez no Teatro do Bairro (no Bairro Alto, Lisboa) na passada Sexta-Feira, com o duplo Romance / Hardcore na bagagem. Umas horas antes do concerto encontrámo-nos com o mentor deste e doutros projectos musicais, como os Irmãos Catita, Ena Pá 2000 ou os mais recentes Fados do Lello. Manuel João Vieira fez-se acompanhar dos seus irmãos gémeos e do primo que actualmente personifica o Candidato Vieira. A conversa foi à pesca dos Corações de Atum, deixou-se picar pelo insecto do fado, entrou no pântano da política (bem acutilante a visão do Candidato Vieira sobre a conjuntura nacional na semana que precede as legislativas) e ainda se passeou pelas artes plásticas e outras temáticas mais ou menos soltas. Eis Manuel João Vieira, uma das poucas personalidades bigger than life deste Portugal Catita.

Link para o artigo completo, com a entrevista a Manuel João Vieira.
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Publicado originalmente no Bodyspace.