sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Dez Trocadilhos Com a Cara e o Corpo da Lana del Rey

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Anda meio mundo a falar nesta Lana del Rey e no seu novo álbum, Born To Die. Não sabemos de onde é que ela saiu nem por que é que a querem impingir a toda a gente, por isso decidimos, numa conversa em grupo no Facebook, continuar o hype por meio de trocadilhos. Aqui vão os piores dez.

1. Gosto de Lana del Rey, mas prefiro a Lana d’Água.
2. O que vai o D. Duarte depositar ao banco de esperma? Nhanha del Rey.
3. Sacares o álbum Born to Die do Megaupload é arranjares Lana para te queimares.
4. Uma Lady na mesa, uma Lana na cama.
5. Quem está fora racha Lana.
6. Sabem quem ganhou o Prémio Nobel da Paz? O Dá na Lana.
7. Em 2012 chafurdar na Lana é de Rey.
8. O que leva o Eusébio a tomar um Viagra? A vontade de ficar com Lenha del Rey.
9. Virar a Lana do avesso é um anaL que não tem preço.
10. Na Lourinhã a Lenha del Rey Ghob queima gnomos até de manhã.

TEXTO POR PESSOAL DO PIORIO
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Artigo publicado originalmente na Vice, mais concretamente aqui - contribuição para o brainstorm do Pessoal do Piorio.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Confiem, ainda há almoços grátis

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O custo de vida está pela hora da morte, são cortes atrás de cortes, o IVA dos espectáculos subiu… mas não há desculpa para deixar de ir a concertos – pelo menos aos que acontecem no número 159 da Avenida da Liberdade até ao dia 11 de Fevereiro. O espaço Pop Up anda a promover workshops, curtas-metragens e showcases gratuitos com várias bandas nacionais; e o melhor é que a entrada é gratuita. Inaugurado no passado dia 19 para promover o lançamento do “Up”, o novo modelo da Volkswagen, a organização convida criadores e artistas plásticos para aí exporem os seus trabalhos, bem como músicos e DJs para literalmente darem música a quem passar por lá.

Segue a lista dos concertos agendados de hoje em diante:

26 de Janeiro - Samuel Úria
27 de Janeiro - Norton
28 de Janeiro - Frankie Chavez

01 de Fevereiro - Rita Braga
02 de Fevereiro - Cavaliers of Fun
03 de Fevereiro - We trust
04 de Fevereiro - Capitães da Areia

08 de Fevereiro - a Jigsaw
09 de Fevereiro - Filho da Mãe
10 de Fevereiro - Balla
11 de Fevereiro - You Can´t Win, Charlie Brown!
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Optimus Alive: P de Portugueses, P de PAUS

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Após a confirmação de alguns artistas estrangeiros (Radiohead, Caribou, The Cure, Florence + The Machine, Justice, The Stone Roses, Mazzy Star, Metronomy e Snow Patrol), eis que é anunciada a primeira banda portuguesa que integrará o cartaz do festival Optimus Alive'12, que decorre entre os dias 13 e 15 de Julho: os PAUS (de Hélio Morais, João “Shela” Pereira, Makoto Yagyu e Joaquim Albergaria) actuam dia 15 de Julho, no Palco Optimus. Óptima oportunidade para ver ou rever uma banda que já passou pelo Passeio Marítimo de Algés em 2010; óptima chance de ouvir ou voltar a escutar os temas do EP É Uma Água e do LP homónimo, lançado no ano passado. Óptima notícia porque não gostamos do que o novo acordo ortográfico faz à língua portuguesa. Preferimos usar outro tipo de salsa como tempero.
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

O Vodafone Mexefest do Porto já tem o cartaz fechado

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Dito isto, vamos por partes.
Em primeiro lugar, os nomes que hoje foram confirmados para ajudarem a colocar a movida da Invicta ao rubro entre 2 e 3 de Março: Twin Shadow, Niki & The Dove, The Dø, Emika, Dillon, King Krule, Norberto Lobo, Lacraus, Diego Armés, Portable, Makam, Peak & Swift, Russian Red, Muchachito Y El Trio Infierno, Dani Black, Norton, David Pires, Alto!, The Underdogs, Social Disco Club, Rui Murka, 1ª Linha Soundsystem, André Cascais, Freshkitos, Nuno Forte e Rui Trintaeum.
Tal como aconteceu no passado mês de Dezembro em Lisboa, a música rolará em simultâneo no Porto durante duas noites seguidas, em concertos espalhados por diversas salas emblemáticas ou palcos mais ou menos imprevistos, como a Garagem Vodafone FM, o Coliseu do Porto, o Cinema Passos Manuel, o Teatro Sá da Bandeira, a Sala Super Bock Super Rock (Maus Hábitos), a loja Fnac Santa Catarina, o Pitch Club e o Ateneu Comercial do Porto.
Os outros artistas (anteriormente anunciados) que completam o festival Vodafone Mexefest do Porto são Cass McCombs, Best Youth, Capitão Fausto, Beatbombers, Fink, Foals (DJ Set), Hanni El Khatib, Josh Rouse, Ladrões do Tempo, St. Vincent, Tiger & Woods, Supernada, The Glockenwise e Salto. Saltam, então – não dez, não vinte, não trinta… – QUARENTA (!!) nomes para escolher e planear um fim-de-semana de sonho para qualquer melómano que se preze.
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

As melhores canções de 2011

1 - B Fachada: "Deus, Pátria e Família"
Se toda a gente já teve, tem ou ainda vai ter o momento em que passa de hater a lover do universo musical muito particular de B Fachada, esta terá sido a minha epifania; o momento em que a cena bateu e pensei estar perante um talento e não uma fraude. Algo como: «Eh pá! É melhor parar de gozar com este gajo e passar a escutar o que ele faz». E o que B Fachada canta neste disco de Verão quente tem todos os ingredientes que compõem uma grande canção. Em vinte minutos há galinhas a cacarejar e piano a esvoaçar, voz que canta idiossincrasias pátrias e íntimas sob uma melodia entre o ululante e o libertário. Há, sobretudo, uma canção que acerta no centro dum alvo em movimento, sem floreados nem concessões.

2 - PJ Harvey: "Written On The Forehead"
Esta é uma das canções que fizeram de Let England Shake um dos melhores discos de 2011. A toada lânguida de “Written On The Forehead” e as palavras melodiosas mas incendiárias de Polly Jean Harvey são reforçadas pelo sample de “Blood And Fire” – clássico reggae de Niney “The Observer”. O “Let it burn, let it burn, let it burn, burn, burn…” que atravessa a faixa como uma espécie de mantra (vindo da gravação original ou dos lábios de PJ) continua a ecoar nos ouvidos muito depois de a música terminar. É deixar arder, talvez a cura chegue entretanto.

3 - Panda Bear: "Benfica"
Tomboy termina em apoteose desportiva, com uma faixa dedicada ao Glorioso. Nela canta-se o valor da vitória e ouvem-se os adeptos, puxando pela equipa em uníssono, numa imensa onda que varre as bancadas de lés-a-lés. Sente-se a ambição pela vitória, inscrita nos genes do Clube. Se passasse no Estádio da Luz em dias de jogo, este hino funcionaria certamente como talismã para o Benfica – dando descanso aos UHF, por exemplo – e seria ouvido por dezenas de milhares de almas em êxtase simultâneo. Assim, permanecerá como um tesouro acessível a quem ouvir o registo de estúdio ou se deslocar aos concertos deste ilustre lisboeta, o que lhe reserva um charme mais discreto.

4 - James Blake: "Limit To Your Love"
Numa era em que a tecnologia democratiza a criação musical (e a respectiva difusão) multiplicam-se covers/versões de tudo e mais alguma coisa, mas as que merecem uma mera audição já são poucas. Raras mesmo são as pérolas que brilham de tal forma que ofuscam o original. É o que aconteceu com a música que tornou James Blake um dos meninos queridos do ano passado. Ao pegar na balada da canadiana Feist, despindo-a ao essencial – piano, voz e electrónica suave –, criou um clássico contemporâneo. Tal como aconteceu com “Hurt”, de Nine Inch Nails, após a interpretação de Johnny Cash, esta música agora (também) é de James Blake.

5 - PAUS: "Malhão"
Existem outras faixas igualmente boas no primeiro longa-duração de PAUS, outras músicas que cruzam como poucas bandas conseguem fazer balanço com intensidade e batida com electricidade. Mas nenhuma delas tem um refrão que dá vontade de repetir ao ouvido duma miúda gira que nos dê trela às tantas da manhã: “Mordi-te antes que / Antes que me mordesses tu / Despi-te com medo que / Com medo que me visses nu” é algo tão belo e afrodisíaco que deveria andar sempre na nossa carteira, ao lado das embalagens “Durex”.

6 - Tom Waits: "Hell Broke Luce"
A toada é militar mas Tom Waits é tudo menos ortodoxo – aquilo em que este alquimista da música toca transforma-se em lingotes de ouro clandestino. Neste caso derrete uma batida diabólica que faz lembrar a chegada das tropas inimigas e ergue a barricada sonora com que se defende das bombas disparadas pela guitarra eléctrica. Quase que o podemos visualizar nas trincheiras, de capacete e uniforme – mas com o chapéu e o fato debaixo do braço –, à espera de escapar para junto do piano quando o Inferno conceder uma trégua ao seu exército.

7 - Diego Armés: "Entre Dentes"
Neste quadro poético dos afectos e dos encantamentos, um estado de graça flui entre as cordas, o acordeão e a voz, criando uma espécie de pacto secreto selado pelas palavras, enigmáticas mas que dão sentido e força a tudo o resto, saindo da boca de Diego Armés para arrepiarem os ouvintes como uma tarde fria de Outono. Primeiro insinuando-se aos sentidos, numa toada lenta e envolvente, depois embalando os enganos num ritmo que ora avança ora se detém. Uma canção misteriosa numa estreia a solo que não engana.

8 - Halloween: "Drunfos"
A Árvore Kriminal está cheia de rimas tão brutais como um ataque terrorista e eficazes como um remate de pé esquerdo do Cardozo; mas nenhuma será tão plástica, tão moldável quanto o «Hoje vou sair, vou rolar / Vou dizer a todas as miúdas “Olá!”». Experimentem adaptá-la a outras situações e perceberão que estes drunfos um dia podem estar disponíveis em saquetas numa qualquer farmácia, de forma perfeitamente legal, sob a forma de genéricos para aliviar as dores de costas. Porque o produto original (a real thing) é de Allen Halloween, e é pouco provável que ele ceda a patente de mão beijada.

9 - Buraka Som Sistema: "(We Stay) Up All Night"
Se o “Benfica” do Panda Bear é o hino para a Catedral Sagrada, este é o salmo dos templos profanos de prazer, luxúria e abandono. Para agitar a pista enquanto se lava a vista; transpirar como se tivéssemos corrido quilómetros ao som dum sistema cada vez mais oleado e ao qual sobra inspiração. Se organizarem uma festa e o ambiente estiver a arrefecer, sempre podem experimentar meter esta malha a bombar no máximo. O mais certo é conseguirem o efeito desejado; mas se a cena não ressuscitar, caguem e vão à procura dum sítio onde ainda não esteja tudo morto e acabado.

10 - Rebecca Black: "Friday"
Escolhi esta como poderia fechar com a “Morena Kuduro” ou a “Ai, Se Eu Te Pego” – ambas na voz de José Malhoa, claro –, ou qualquer outro êxito sem pés nem cabeça, cuja razão de ser é a paródia. Os minutos de risota proporcionados por músicas que geram videoclips absurdos e justificam como o mais perfeito dos álibis danças bizarras são priceless. E o que não tem preço é muito valioso numa altura em que o custo de vida anda pela hora da morte. Escolhi a “Friday” porque foi esta que o Paulo Cecílio passou nas Festas do Bodyspace, em performances que já pertencem ao imaginário colectivo. p.s. – mas se ele tivesse passado a “Paradise”, ou outra qualquer de Coldplay, não havia abébias para ninguém. Até o mau gosto tem limites.
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Artigo colectivo publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui. Ver também parte do artigo no P3 do Público.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Dez anos para Supernada

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A banda formada em 2002 e encabeçada por Manel Cruz (acompanhado pelo guitarrista Ruca Lacerda, o teclista Eurico Amorim, o baixista Miguel Ramos e o baterista Francisco Fonseca) vai lançar o seu primeiro álbum em Março. O processo de gravação de Nada é Possível teve início em 2006, numa pequena casa de campo em Vale de Cambra, passando desde aí por outros estúdios. Novas canções foram aparecendo, entre concertos, e as já compostas foram-se transfigurando, revelando o gosto pela constante experimentação. Quando acharam que o material estava consolidado, os Supernada convidaram Nuno Mendes para misturar as canções que tinham sobrevivido a todo o processo, chegando assim ao formato definitivo do disco de estreia, que antes de chegar às lojas poderá ser ouvido ao vivo num dos palcos do Vodafone Mexefest Porto, que decorre entre os dias 2 e 3 de Março. Nova estreia, “Nova Estrela.”
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

A 10ª edição do Sons de Vez decorre entre Fevereiro e Março em Arcos de Valdevez

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Rima e, neste caso, é verdade. O Auditório da Casa das Artes de Arcos de Valdevez prepara-se para receber mais uma ecléctica Mostra de Música Moderna Portuguesa: The Gift, JP Simões, Frankie Chavez, Osso Vaidoso, A Naifa, PAUS, Kussondulola e B Fachada são alguns dos nomes que, entre 3 de Fevereiro e 24 de Março, vão espalhar música pela localidade minhota.
Para comemorar o 10º aniversário deste festival, será editada também uma compilação com temas de artistas que já passaram pelo Sons de Vez (como Gaiteiros de Lisboa, Mão Morta, Linda Martini, Foge Foge Bandido, Dead Combo, Pop Dell´ Arte…) ou que marcarão presença nesta décima edição.
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Trilogia da Vida Fácil: o primeiro tomo é servido já no dia 28

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No próximo dia 28 de Janeiro as Largo Residências começam a apresentar a Trilogia da Vida Fácil na Taberna das Almas, Anjos. A festa será encabeçada pelos PAUS, que partilharão a noite com outros músicos – Filho da Mãe, o projecto Montanhas Azuis (de Norberto Lobo e Mário Franco), Joana Sá & Eduardo Raon – e artistas que os inspiram: Jemima Stehli, Gwendolyn Van Der Velden, Eduardo Leitão e Dunya Rodrigues. Os PAUS, que foram convidados para programar este primeiro tomo da trilogia, prometem um concerto «daqueles no chão, sem palco, com o people que é people todo à volta». Em Janeiro faz um frio de rachar, há que aquecer as almas na taberna.
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Andanças em Mudança(s)

A PédeXumbo – associação que trabalha a promoção da música, instrumentos e danças de raiz tradicional, com especial destaque para o património português –, anunciou que o Andanças vai ser objecto de transformações já a partir deste ano. A partir de 2013, este festival irá mudar de coordenadas, para um espaço que permita um crescimento sustentado (já impossível em São Pedro do Sul, a sua casa durante várias edições) e no qual serão realizadas actividades durante todo o ano e não apenas em Agosto. Este ano, que será de transição, o Andanças está marcado para o dia 4 de Agosto, em Celorico da Beira – decorrendo, assim, na sequência do Festival Danças na Água, que começa no dia 1 e termina a 3 de Agosto – , e sob um formato diferente: 24 horas non stop (em vez dos habituais sete dias) dum festival de música e dança que leva já dezasseis edições.
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A caneca que já é um símbolo do Andanças: custa 1 €, valor devolvido se o participante a entregar no final.
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Youssou N´Dour é candidato à Presidência do Senegal

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Não é a primeira vez que um músico se aproxima da órbita do poder – lembre-se, por exemplo, o caso recente de Gilberto Gil, que chegou a ser Ministro da Cultura brasileiro durante o Governo do Presidente Lula da Silva –, nem será decerto a última. Mas como a arte e a autoridade não costumam ser as melhores amigas, os cantores que se tornam políticos são relativamente escassos, o que torna cada caso digno de realce, sobretudo pelas motivações que lhe estão subjacentes. E Youssou N´Dour, que ganhou fama internacional através do dueto com Neneh Cherry, em “7 Seconds”, justificou a sua candidatura apresentando-se como um cidadão «preocupado com o futuro do seu país» e mostrando-se muito crítico do despesismo do actual Presidente senegalês. O autor de “New Africa” irá, assim, opor-se a Abdoulaye Wade, de 85 anos e que está na presidência deste país africano desde 2000.
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

The Horrible Crowes - Elsie

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A vingança enquanto prato criativo
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O nome deste projecto paralelo do vocalista de Gaslight Anthem foi inspirado pelo poema inglês “Twa Corbies” – em que dois corvos discutem sobre a forma de consumir os restos mortais dum cavaleiro abandonado pela sua amada –, espécie de comentário sombrio sobre a vida, em que ou devoramos ou acabamos por ser devorados. E o álbum gira em redor de três relacionamentos amorosos que destroçaram Brian Fallon, inspirando-o a discorrer sobre a merda que são as relações humanas, especialmente as românticas. Acabam por ser essas memórias, a maior parte delas pouco agradáveis – à excepção da última faixa –, que povoam as músicas com fantasmas de mulheres, como quando canta «I carry each and every ghost of my lovers at once em “Go Tell Everybody”.
Tendo Brian Fallon como protagonista, é quase inevitável entrar em comparações com a banda de Sink Or Swim. Mas aqui a combustão das melodias é mais lenta e fumarenta, para ouvir no silêncio das horas tardias, sem ruído em redor. As raízes punk estão mais escondidas. E também não existem tantos hinos à Boss (é bom recordar que os Gaslight Anthem, oriundos de New Jersey, têm em Bruce Springsteen uma espécie de padrinho espiritual), daqueles que levantam estádios e corações. Se a veia eléctrica e enérgica de Gaslight Anthem pode sair vencedora dum festival ao ar livre, este projecto (entre o contemplativo e o melancólico, quase sempre acústico) pede mais uma sala que crie um ambiente íntimo, com maior proximidade entre a banda (Fallon gravou o álbum com o seu amigo Ian Perkins e músicos convidados) e o público.
Fallon comprova os seus dotes de letrista (em vez de contar histórias, aqui canta dores e desamores), compositor e vocalista, com iguais doses de talento e paixão, expondo as cicatrizes que em Gaslight Anthem estão tatuadas pela energia do rock. Existem algumas malhas intensas (a exemplo de “Behold The Hurricane”, com o coro eléctrico que ecoa por uma casa vazia) e outras que vão ganhando força – como “Mary Ann”, rasgada por berros e guitarras –, mas o tom geral é outro. “Last Rites” lança a toada, com as vozes e o piano envoltos numa cortina de fumo e uma letra que fala de enterrar memórias vivas; com “Sugar” balança-se ao sabor do desengano e “Black Betty & The Moon” esconde uma mensagem terrível sob a inocente melodia.
Reza a história que, no concerto de estreia de Horrible Crowes, Brian Fallon agradeceu às raparigas que lhe partiram o coração, aos respectivos namorados actuais e às mães que criaram essas “mulheres horríveis” por o terem inspirado a escrever estas músicas. A vingança, afinal, também pode ser um prato criativo.
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

The Magnificent Seven

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No fim do ano, a webzine de música em que escrevo (se não conhecem o Bodyspace, passem por lá) organiza uma lista dos melhores álbuns do ano. Estes balanços fazem-nos sempre olhar pelo retrovisor, e se o distanciamento nos traz objetividade também obriga a fazer algum esforço de memória.
Quais foram as melhores ondas que apanharam em 2011, lembram-se? Eu recordo-me. Não exatamente das melhores ondas surfadas, naquele dia exato, mas da sequência de dias que fica no primeiro lugar do pódio. Sete jornadas seguidas: entre os dias 24 e 30 de novembro, precisamente.
Lembro-me bem por várias razões. Dois mil e onze estava a ser o ano em que menos surfei desde que comecei a fazer bodyboard, já lá vão cerca de duas décadas. Uma operação ao joelho, no fim de setembro de 2010 – e as consequentes sessões de fisioterapia e ginásio –, a que se somou uma mudança temporária da Ericeira para Lisboa, deixaram pouco espaço de manobra para ir à água com a regularidade desejada.
Em agosto comecei a recuperar o tempo perdido no País Basco e, quando o verão atrasado se instalou, em setembro e outubro (muito sol e calor, pouco vento e ondulações constantes e alinhadas) apanhei vários dias de boas ondas, por vezes só de calções e licra, coisa rara por estas paragens. O ritmo estava agarrado...
Mas foi no final de novembro que os astros se alinharam para uma semana que vai ficar gravada na memória. A letras douradas. Durante essa semana surfei todos os dias, de manhã, no mesmo sítio, como se estivesse a cumprir um ritual. O swell foi-se mantendo (com algumas variações de tamanho e direção) e o vento nunca atrapalhou a formação das ondas, que entravam certinhas, umas atrás das outras, algumas tubulares, outras mais manobráveis.
Não me lembro de outra semana seguida com um nível de condições assim. Nem sei daqui a quanto tempo (ou se) este fenómeno se vai repetir. Mas sei que vou ficar à espera de algo semelhante – ou melhor! São dias como estes que servem de motivação (e inspiração) para esperar que os astros se voltem a alinhar, alimentando a eterna busca.
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Publicado originalmente na Vert, mais concretamente aqui.