sexta-feira, 27 de maio de 2011

Entrevista: Taylor McFerrin - O improviso é uma arma

De acordo com Taylor McFerrin, o seu álbum de estreia, que se intitulará Early Riser, está praticamente concluído, devendo ser lançado durante o próximo mês de Julho. A entrevista que se segue - e durante a qual foram tiradas as duas fotos cimeiras – é resultado duma conversa bastante descontraída no backstage do Clube Ferroviário, em Santa Apolónia, logo após a penúltima data da tour que passou por diversas cidades europeias, incluindo Lisboa e Guimarães. Comecei por agradecer o óptimo material que o seu Mac me tinha dado para começar a escrever sobre o espectáculo: o computador teimara em não colaborar durante a primeira meia hora – apesar dos esforços da task force que o tentava reanimar –, obrigando o norte-americano a desenrascar-se à boa maneira lusitana. Depois falou-se de música, digressões a solo e basquetebol, enquanto o artista descomprimia do concerto e adoçava a boca com uma morangoska.
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Link para o artigo completo, com a entrevista a Taylor McFerrin.
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Publicado originalmente no Bodyspace.

The Glockenwise - Building Waves

Se Barcelos não é a cidade do rock, estes rapazes aceleram daí para fora, numa estreia promissora.

A primeira vez que tomei contacto directo com estes minhotos que usam o tédio como motor foi no MusicBox, em Lisboa. A questão levantada pelo concerto foi: «Será que em estúdio estes putos transmitem metade da garra e energia mostradas ao vivo?»

Nesta parte, missão cumprida, embora por enquanto as prestações em cima do palco (frenéticas e contagiantes) sejam mesmo o maior trunfo da banda. A maior parte de Building Waves é composta por malhas aceleradas e refrões apelativos que ressoam como mantras. Há, também, lugar para uma ou outra incursão blues, como em “It´s Not a Dead End But It Most Certainly Looks Like One”, e para um tema que poderia ser uma versão acelerada dos Beach Boys – “Stay Irresponsible”. Escassas derivações, contudo, para diversificar o conteúdo do disco, naquele que talvez seja o único ponto fraco deste LP de estreia.

Embora haja quem já os compare a outros (ex-)nomes fortes da cena nacional, Building Waves mostra que os Glockenwise têm personalidade própria – baseada em hinos pujantes para entoar em coro –, optando por trilhar um caminho próprio. “You Better Watch Out” (for these kids)!! – apetece avisar, como os Glockenwise repetem, vezes sem conta, em “Bardamu Girls”, a faixa de abertura de Building Waves, o álbum com que os rapazes de Barcelos começam a conquistar a sua própria vaga no panorama musical.

Publicado originalmente no Bodyspace.

Aloe Blacc @ Aula Magna / 4 Mai 2011

© Mauro Mota
Link para a crónica do concerto.

Publicado originalmente no Bodyspace.

Cristina Branco - Não Há Só Tangos Em Paris


Se não chovesse tanto no coração dos portugueses, certamente não haveria Fado. Mas Cristina Branco não se limita a ser uma das melhores intérpretes actuais da canção nacional, incorporando no repertório diversas influências musicais, mais do que nunca presentes no seu trabalho.

Não é de agora a aventura por outras paragens, mas deste recente périplo Cristina Branco trouxe como recuerdos tangos mestiçados por outras sonoridades latinas, cantadas nas línguas de Camões, Cantona e Che. Como na belíssima “Talvez” (cuja melancolia do acordeão introduz, logo ao início, um clima de hesitante prece romântica, repetido com intensidade no refrão), em “L’invitation Au Voyage” ou “Un Amor” – pontuado pela linha de contrabaixo de Bernardo Moreira e pela riqueza instrumental, do solo de piano aos violoncelos –, respectivamente.

A voz de Cristina Branco é cheia de tons e nuances, como em “Laurindinha”, na qual passeia por uma cascata de notas como se atravessasse diversas paisagens e estados de alma. Este é, aliás, um disco que convida a viajar, em que as canções surgem como postais enviados a partir de vários portos emocionais.

Há, também, lugar para versões, como o bolero “Dos Gardenias”, “Les Désespérés” ou “Não é Desgraça Ser Pobre”, fado de Amália Rodrigues cantado com garra e solenidade. Cristina Branco diz que «o fado é como o tango, ritmos de gente doída e pobre, mas de alma grande!». A graça da cantora enriquece-nos os dias com a luz de Lisboa, vista a partir de França ou Buenos Aires. Porque aqui está latente o «horror do domicilio» de que sofria Baudelaire.


Publicado originalmente no Bodyspace.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Entrevista Ray Cappo (Youth of Today)


Ray Cappo passou por Lisboa na 6ª-Feira, dia 6. O palco do Santiago Alquimista, em Lisboa, foi partilhado pelo público de duas bandas fundamentais no movimento Straight-Edge: os X-Acto estiveram bem presentes, num tributo intenso à formação que marcou os anos 90 portugueses, e os míticos Youth Of Today provaram que os bons velhos tempos são agora. Após um longo interregno – depois de abraçar o Movimento Hare Krishna, Cappo fundou bandas como os Shelter e Better Than a Thousand –, o ícone do Hardcore positivo nova-iorquino fez-se novamente à estrada com os YOT. Na curta conversa que se segue mostra que os valores que o guiaram desde o início da caminhada continuam bem vivos.

Link para o artigo completo, com a entrevista a Ray Cappo.

Publicado originalmente no Bodyspace.

Entrevista: Arborea


Os Arborea (dupla constituída pelo casal Shanti e Buck Curran) vêm do Maine, Estados Unidos da América. Praticam uma pop/folk delicada, por vezes etérea, com a voz de Shanti Curran a envolver-nos os sentidos – como algodão que limpa feridas abertas no espírito –, pairando sobre uma filigrana instrumental. Vão aterrar no Porto, num concerto Bodyspace integrado no Serralves em Festa que se realizará no próximo dia 28. Oportunidade para se ouvirem, entre outras, composições de Red Planet, lançado este ano. Uns dias antes do concerto, fomos falar com Buck Curran. A conversa andou à roda da fogueira musical, claro, mas não só: paisagens, paralelismos históricos e viagens foram alguns dos outros temas que estiveram em cima da mesa.

Link para o artigo completo, com a entrevista a Buck Curran.
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Publicado originalmente no Bodyspace.

Clean Feed / Trem Azul



Link para o artigo completo - texto, vídeo e fotogaleria.

Corações de Atum - Romance / Hardcore


«É p’ró menino e p’rá menina!». O conhecido pregão popular deverá sofrer uma adaptação quando se aborda o duplo álbum dos Corações de Atum. Romance / Hardcore são duas faces da mesma moeda. Este trabalho tem uma cara passível de difusão radiofónica generalista (Romance), enquanto a coroa (Hardcore) é apenas para consumo de ouvidos pouco susceptíveis. O que verdadeiramente distingue as duas rodelas é o facto de Hardcore ter palavrões, vulgo caralhadas – das que Manuel João Vieira usa e abusa (quase sempre bem) nos seus projectos mais conhecidos, como Ena Pá 2000 e Irmãos Catita. Até se pode jogar às diferenças, em temas como “Eu Gostava de (Gostar de Alguém)”, versões normal e rápida, “Strip Tease” e “Quando Eu Ganhar o Totoloto”, ambas com takes soft e hard.

Musicalmente, o dois-em-um é coerente. Quase sempre em registo jazzístico, apresenta composições com diferentes andamentos. Umas melancólicas, como “Cowboy Solitário”, e outras mais ritmadas – oiça-se “Gosto de Ti (Realmente)”. Há lugar para o swing, para a bossa, em “Samba nº 1”, o dixieland e uma piscadela de olho ao samba-canção, em “O Borracho”. Manuel João Vieira assume o papel de crooner à moda antiga (tocando também bandolim, banjo e harmónica em algumas faixas), sendo acompanhado por uma extensa lista de músicos, não só dos Corações de Atum como convidados, nos quais se inclui um quarteto de cordas.

Podem apresentar-se estes temas num sítio onde seja possível estar sentado, a tomar um drink, enquanto se conversa, mas onde também se possa dançar agarradinho na pista. Mas, faites attention: Romance terá o seu espaço de eleição num piano bar frequentado por uma clientela selecta; já Hardcore enquadra-se num ambiente de cabaret mais ou menos decadente – ou, então, sirvam-se ambos, quais gémeos siameses, num espaço multiusos como o Maxime, onde o disco foi gravado.

Publicado originalmente no Bodyspace.

The National @ Campo Pequeno / 24 Mai 2011

© Mauro Mota
Link para a crónica do concerto.

Publicado originalmente no Bodyspace

Entrevista: Adolfo Luxúria Canibal


Em semana de Fantasporto (dia 25 marcou o arranque oficial do emblemático festival de cinema fantástico da Invicta) e uns dias após o seu clube ter dado novo passo em frente na Liga Europa, o Bodyspace apresenta um exclusivo com Adolfo Luxúria Canibal. O carismático vocalista dos Mão Morta, que comemoraram as Bodas de Prata no ano passado com o lançamento de Pesadelo em Peluche, falou de tudo um pouco até ficar quase sem bateria no telemóvel, numa conversa em que não se deu pelo passar do tempo. Como no palco, limitou-se a seguir uma regra simples: não deixar nada em suspenso, assumindo as suas posições e respectivas consequências. Falou de música e chegou a Budapeste; passeou-se pela actualidade internacional e partilhou gostos pessoais, até chegar à actividade como jurista apaixonado pela área do ambiente. Talvez uma das mais extensivas entrevistas concedidas pelo multifacetado músico, que ao fim de décadas de carreira mantém intacto o impulso criativo.

Link para o artigo completo, com a entrevista ao vocalista dos Mão Morta.

Publicado originalmente no Bodyspace.

A Revolução Vai Ser Amplificada


O dia 12 de Março foi palco da maior manifestação da minha geração. Abril e Maio são meses com datas marcantes, no panorama nacional (hoje comemora-se a Revolução dos Cravos, embora este ano não haja as habituais comemorações oficiais na Assembleia da República, porque o Parlamento está dissolvido…) e internacional: o 1º de Maio é sinónimo de Dia do Trabalhador desde finais do Século XIX. 

O que é que isto tem a ver com música, perguntarão alguns. Bastante, até. A música não serve apenas para bater o pé, entreter e engatar – embora estas facetas já lhe conferissem um papel mais importante do que todos aqueles que Tozé Martinho desempenhou na carreira de actor, com ou sem pullover amarelo pelas costas. A música também alimenta a alma de inquietações e atira constantemente achas para a fogueira das transformações sociais e políticas dos povos e nações. Dos Clash a Gil Scott-Heron, do Hip Hop ao Reggae, passando pelo Jazz, sempre houve músicos que não se limitaram a romper com cânones estéticos e partilharam princípios éticos, mesmo que com isso arriscassem pagar a factura do activismo desalinhado, sendo por vezes detidos pelo sistema que ousaram afrontar. O livro 33 Revolutions Per Minute – A History of Protest Songs, de Dorian Lynskey, está aí para o atestar. 

Por isso é que ao "nosso" 25 de Abril se associam as composições de Zeca Afonso ou José Mário Branco; e que a manifestação de 12 de Março foi bastante inspirada (custe a quem custar…) por uma música. A mani-festa acabou por ter uma banda-sonora transversal, à imagem do povo que tomou a rua por um dia: as presenças de Blasted Mechanism, Vitorino, Homens da Luta, Fernando Tordo, Kumpania Algazarra e Rui Veloso cruzaram estilos e fizeram a ponte entre gerações descontentes com o status quo. Entre os dias 25 de Abril e 1 de Maio, a Casa da Música, no Porto, programa o Festival Música & Revolução, onde se inclui a actuação de Ursula Oppens, que tocará ao piano uma peça composta a partir de "O Povo Unido Jamais Será Vencido!", criada pelo chileno Sergio Ortega para o tempo de Salvador Allende e que viria a transformar-se num hino de revoluções um pouco por todo o globo, incluindo no nosso cantinho à beira-mar plantado. 

Afinal de contas, isto anda tudo ligado por harmonias destinadas a causar sobressaltos nas consciências mais ou menos adormecidas. O Bodyspace foi saber o que oito ilustres (músicos ou ligados à nossa paixão a esta arte) pensam sobre o papel da música nas transformações sociais e políticas, onde é que estavam no dia 12 de Março e que opinião têm sobre esse dia que acabou por ser replicado, ainda que em menor escala, na vizinha Espanha. 

In the end I think of music as saving grace for all humanity — Henry Miller.
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Link para o artigo completo, incluindo as entrevistas com Adolfo Luxúria Canibal, Cristina Branco, Diego Armés, Jel e Falâncio - Homens da Luta -, Guitshu, Ikonoklasta, Pedro Mateus - X-Acto, Rui Miguel Abreu e Vitorino.

Publicado originalmente no Bodyspace.