quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Os 10 discos de free jazz que nos foderam os ouvidos


Ornette Coleman - The Shape Of Jazz To Come

Se a liberdade e o improviso estão inscritos no código genético do Jazz, este disco deu passos em frente (grau de improvisação simultânea; papel dos acordes…) em relação à herança recebida, que, ainda assim, não deixa de reflectir. Em comparação com o que Ornette Coleman viria a fazer mais tarde, este até é um disco acessível (com swing e assinalável sentido de melodia), mas ao apontar futuros caminhos tornou-se um trabalho revolucionário no seu tempo e que permanece fundamental nos nossos dias. Temas como “Lonely Woman”, “Peace” ou “Congeniality” – nos solos de Coleman e Don Cherry, mas também nos ritmos cruzados de Charlie Haden e Billy Higgins – fluem como um rio de águas mais ou menos bravas e que não se deixam limitar pelas margens: partem da melodia para serpentear em várias direcções, através de explorações sonoras sem amarras ou rotas pré-definidas. Um pouco como a relação da história para a escrita ou das cordas para o alpinismo - será bem mais arriscado (mas também muito mais gratificante) construir uma narrativa ou escalar uma montanha sem recorrer a estas ferramentas. The Shape Of Jazz To Come foi uma obra-charneira na revolução musical que estava em marcha no espírito do seu autor, como os títulos dos álbuns que este tinha lançado antes (Something Else!!!!; Tomorrow Is The Question!) preconizavam e aqueles que viria a editar depois (Change Of The Century; e sobretudo Free Jazz) haveriam de confirmar.


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Participação no artigo colectivo "Os 10 discos de free jazz que nos foderam os ouvidos", publicado originalmente no Bodyspace, mais concretamente aqui.

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