terça-feira, 30 de agosto de 2011

Seu Jorge and Almaz - Seu Jorge and Almaz


Diamante psicadélico?

Seu Jorge regressa, após América Brasil, um dos seus álbuns mais “farofeiros”, com um registo que tem mais groove nas veias do que samba no pé, mais electricidade do que batucada. Daí que a imagética do diamante psicadélico presente na capa do álbum não seja de todo inusitada. Nem o facto de o álbum ser editado pela americana Now-Again Records, vocacionada para sonoridades soul e funk. Esta mudança sonora nem é de estranhar, pois este brasileiro cosmopolita faz-se acompanhar da Banda Almaz que, além do baixista António Pinto, integra Pupillo (bateria) e Lúcio Maia (guitarra), da Nação Zumbi, banda seminal criada por Chico Science e expoente maior do Manguebeat.
Mais de metade das músicas aqui presentes são covers de outros respeitáveis artistas – “Rock With You”, de Michael Jackson, é apresentada em toada de funk lento, sensual e lânguido; “Cristina”, de Tim Maia, surge como nova ode feminina, após dedicatórias a Carolina e à Mina do Condomínio, por exemplo. Tal não deverá acarretar qualquer espécie de preconceito, pois Seu Jorge é responsável por algumas das mais belas versões dos últimos anos, não só nos álbuns em nome próprio como, principalmente, na banda sonora de The Life Aquatic. Nesta película do realizador Wes Anderson, a personagem desempenhada por Seu Jorge (Pelé dos Santos) interpreta em português músicas originais de David Bowie, tais como “Rebel Rebel” ou “Life on Mars”, duma forma que chega a roçar o sublime. O problema é que em Seu Jorge And Almaz se encontra muita competência nestas interpretações, mas raramente o resultado final chega a impressionar pela sua originalidade ou pela alma nelas depositada. Oiça-se “Everybody Loves The Sunshine” (tema clássico de Roy Ayers), que decerto vai gozar de bastante airplay, seja nas rádios como em qualquer soalheira esplanada, para perceber a ideia. 
Seu Jorge já disse, numa entrevista, que neste álbum tentou por vezes fazer ocean music, procurando transmitir a vibração da praia e do oceano. E é isto que está, de facto, presente em várias composições, em que se exploram sonoridades que remetem para esses ambientes, seja através das clássicas guitarras da surf music (oiçam-se, por exemplo, “Saudosa Bahia” ou “Das Model”) ou da própria temática – a hipnótica “Cirandar” é uma ode ao mar e um pedido de protecção para os pescadores. Já o psicadelismo, por seu lado, encontra-se bem patente no solo de guitarra e nos refrões de “Pai João”, na letra de “Errare Humanum Est” e em “Girl You Move Me”.
“Juízo Final” (que é quanto a mim a melhor música do álbum e, também, a súmula de influências e sonoridades presentes neste trabalho, que vão do samba ao psicadelismo): saúda-se a vontade de renovação, mas faltará – tanto às versões como às composições originais – aquele desejável golpe de génio, o grão na asa que fizesse Seu Jorge e restante tripulação levantar voo, num cintilante O.V.N.I. em forma de diamante, rumo a outras galáxias.
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Publicado originalmente no Bodyspace, mais precisamente aqui.

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