quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Topes 2011 Bodyspace


Nº 1 Geral : Panda Bear - Tomboy
Logo na primeira faixa Panda Bear garante que podemos contar com ele. E as hipotéticas dúvidas – é difícil guardar reservas quando falamos de alguém que nos tem dado alguma da melhor música dos últimos anos, tanto a solo como nos Animal Collective – desfazem-se à medida que vamos mergulhando em Tomboy. Se a maior parte dos discos não resiste a audições consecutivas, este como que cresce a cada viagem pelas suas onze faixas, de que “Slow Motion” ou “Last Night At The Jetty” serão paradigmas de excelência: música na vanguarda, sem se deixar enredar por modas fugazes, e que nos transporta para outras dimensões. As harmonias vocais envoltas em eco e as múltiplas camadas sonoras transmitem carradas de sensações, tanto nos fazendo dançar como elevar acima das ondas (em “Surfer’s Hymn”), cantar ou orar, na mais introspectiva “Scheherazade”. Já tínhamos apontado o número de temas do disco: onze, tantos quantos os jogadores que formam uma equipa de futebol, como a do Glorioso clube de que Noah Lennox é adepto confesso. “Benfica” encerra Tomboy como um golo dourado decide uma partida. E mesmo quem não liga a futebol se emocionará com o apoteótico clamor do Estádio, em vagas de louvor à vitória que, no final de contas, é o que todos ambicionamos e aquilo que Panda Bear mais uma vez consegue com este disco.
 
Nº 12 Geral: Radiohead - The King Of Limbs
Ponto prévio: este álbum não entrará no pote milionário onde cabem obras como Ok Computer, Kid A ou Amnesiac. Ainda assim, The King Of Limbs eleva-se acima da mediania do muito que se vai produzindo por aí, e é caso para dizer que se fosse da autoria de alguma banda emergente não seria difícil gerar estardalhaço em seu redor. E não sendo um disco imediato (o que nem é de estranhar em Radiohead), recheado de clássicos absolutos ou temas que entrem à primeira – “Lotus Flower” será a que mais se aproxima disso, com aquela linha de baixo e Thom Yorke em grande estilo –, apresenta um punhado de momentos inspirados. Do nervosismo que transpira de “Morning Mr. Magpie” à alucinante complexidade rítmica de “Feral”, passando por momentos mais densos (a perturbante “Codex”) ou a estranha beleza de “Give Up The Ghost”. Enfim, mesmo futebolistas geniais como “El Mago” Pablo Aimar nem sempre se exibem ao mais alto nível, mas guardam mais magia numa simples finta de corpo do que muitos jogadores esforçados em mil correrias pela linha lateral.
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Nº 16 Geral / Nº 3 Portugueses : PAUS - PAUS
Poderia voltar a descrever o entrosamento entre Hélio e Albergaria (os bateristas-siameses de serviço), que roça a perfeição; a grandeza diabólica do baixo manipulado por Makoto; as sensações transmitidas pelos teclados de “Shela”; as palavras, que permanecem um instrumento mas ganham um protagonismo maior e contornos mais nítidos; ou a forma como tudo isto se agiganta em palco, na troca de fluidos com o público. Mas já estamos fartos dessas conversas – dos trocadilhos com o nome da banda, então, nem vale a pena falar. É melhor, então, concentrarmo-nos na música: Música não linear / Música para dançar / Música para tripar / Música para malhar / Música para queimar / Música para saltar / Música para transpirar / Música para gritar / Música para contemplar / Música para escutar / Música para descruzar / Música para explorar / Música para tocar / Música para inspirar / Música para voar / Música para desmaiar / Música para hipnotizar / Música para iluminar / Música para viajar / Música para acordar / Música para mergulhar / Música para libertar / Música para vaguear / Música para Pausar… Upss!
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Nº 8 Portugueses: B Fachada - Deus, Pátria e Família
Portugal continua muito marcado por dois triunviratos: o “Deus, Pátria e Família” que dá nome a este EP e os “Três FFF” – Fado, Futebol e Fátima, aos quais se voltou a juntar o malfadado FMI, num ano que foi tudo menos fácil. E 2012, insistem em tom de ameaça, vai ser ainda bem pior. Sendo assim, o que B Fachada aqui canta soa cada vez mais acertado, entre uma revisão da matéria dada, a premonição de «Portugal está para acabar» / Portugal vai rebentar» e a captação do ar dos tempos. Sublima-se uma realidade negra (trocado por miúdos: torna-se a merda em algo belo) através do cacarejar de galinhas, do piano – que começa fúnebre para animar passado um tempo, como uma ave que estrebucha depois de lhe cortarem a cabeça – e da voz, que dispara rimas em fachadês contra a «piça do poder» e apela ao boicote do sistema, pois já não chega a mera abstenção. E quando suspende o ataque às idiossincrasias da pátria, naquele ritmo incendiário, B Fachada debruça-se sobre o que lhe é mais querido e familiar – a abrir e a fechar a segunda parte canta coisas íntimas, numa toada lenta e melosa. São “apenas” 20 minutos, mas dizem muito sobre nós.
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Participação no artigo colectivo Topes 2011, publicado originalmente no Bodyspace

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