A Feromona deixou de ser um power trio desde que João Gil se
juntou a Bernardo Barata e aos manos Diego e Marco Armés, mas não perdeu
a pujança. Como que para o comprovar, foi já sob o formato de quarteto
que lançaram o EP Aquelas Três (composto por outras tantas
canções aguerridas) há um par de semanas. Continuando numa de números,
apanhámos Diego Armés para cinco dedos de conversa, onde se fala um
pouco deste recente trabalho e da opção em editar desde já um EP em vez
de seguir a via clássica na sucessão ao álbum Desoliúde.
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“1991” já tinha saído na mix-tape de tributo ao Ruptura Explosiva, numa versão acústica a solo. Era um tema que estava a pedir a energia e electricidade do rock?
Sim. O que tinha feito era um esqueleto, um esboço na guitarra clássica,
com a melodia de voz, tudo um pouco à pressa para responder ao convite
urgente do Tiago Cavaco (aka Tiago Gillul, aka Tiago Lacrau). Logo que
experimentámos tocar a canção em banda, na sala de ensaios, percebemos
que estávamos perante uma necessidade óbvia: fazer uma homenagem rock ao
Patrick Swayze.
A letra desta música tem referências explícitas aos Nirvana e a
outros ícones dos anos 90. Até que ponto as influências dessa época
continuam a ser fundadoras para vocês, enquanto pessoas, músicos e
banda?
Estamos a falar da nossa adolescência tenra, daquela época decisiva no
gosto de cada um em que, mesmo sem se saber como ou porquê, se tomam
partidos e se definem gostos. Para mim, os Nirvana (e outros) foram e
são incontornáveis, do mesmo modo que para o Bernardo os Red Hot (e
outros) são “a cena” daquela altura. O meu irmão, por razões óbvias,
partilha comigo muitos dos gostos. O João Gil também tem uns gostos
muito aproximados no que se refere a essa época. Penso que nas nossas
ideias estas personagens, estas bandas e estes sons talvez tenham ficado
cristalizados como “aquilo que é fixe”. Eram os nossos ídolos. Por mais
que os mates, não te consegues livrar deles. Nem nós queríamos isso,
que gostamos muito deles todos, mortos ou vivos.
“Sábado à Tarde” é daquelas malhas que ficam associadas a uma cena
que nunca passa de moda: um sábado à tarde será sempre um sábado à
tarde, com tudo o que lhe podemos associar, não é?
O sábado à tarde é o monumento temporal ao tédio. É aquele período curto
mas lânguido que está depois de tudo o que havia para fazer por
obrigação e antes de tudo o resto que vamos fazer porque gostamos mesmo,
até às tantas da madrugada. É um impasse sem ralação de qualquer
espécie. É estar à varanda a apanhar sol sem o menor sentimento de
culpa. Ou então é arrumar a casa e ouvir música. A única coisa que não
se pode fazer a um sábado à tarde é deturpar-lhe o espírito, dando-lhe
seriedade ou sentido de obrigação. Diria que o sábado à tarde é aquele
momento anarco-hippie da semana – e não importa a tua ideologia,
filosofia ou religião: vais usufruir dele e deleitar-te, sejas tu
conservador católico ou marxista-leninista.
“Ché Guevara Eunuco” acaba por ser, d´Aquelas Três, a música
com toada mais lenta e menos radiosa: como que para acentuar que “quando
é preciso erguer a voz alto e bom som / a garra perde para o torpor”?
Nunca pensei nisso. Ou, melhor: a relação entre letra e música é, para
mim e no que escrevo, simbiótica. Ou seja, elas devem estar lá uma para a
outra, em função uma da outra, puxando uma pela outra. Portanto, existe
uma procura pela relação ideal, que não seja descompensada ou
desequilibrada ou desajustada ou inadequada. Mas o que queria dizer é
que não arrastámos a música para acentuar isto ou aquilo. Ela foi
acontecendo assim até ficar neste ponto, que é o que considerámos ideal.
Com força, mas também com contenção.
Já tinhas abordado esta questão, mas gostava de saber se o lançamento
do EP surge mais como concretização duma oportunidade ou sinal dos
tempos que a música atravessa, em termos da sua produção e consumo?
É um pouco de ambos, se bem que é mais da primeira: a oportunidade
surgiu e não a desperdiçámos. Por outro lado, também sabemos que o
consumo da música está cada vez mais distante da noção de “álbum”: o
conjunto de canções foi preterido, agora prefere-se uma ou duas músicas
de um disco e o resto deixa-se de lado para não gastar megas ao áipode.
Então, se só precisam de duas ou três canções, aqui têm Aquelas Três. Daqui a uns meses haverá mais.
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