Refused © Mauro Mota
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O tempo começou soalheiro, típico de festival de Verão, com o sol a
aquecer os corpos, mas por volta das 19:30 o céu começou a ganhar tons
cinzentos, com as nuvens a anunciarem algo. Podia ser chuva, que chegou a
tornar-se irritante durante boa parte da noite; podia ser também a
actuação duma (renascida) banda sueca de hardcore que pratica um som
pouco galhofeiro. Seria uma espécie de intermezzo num dia sem
concertos especialmente vibrantes (salvo honrosas excepções) e em que as
bandas vencedoras fazem a festa pela festa. Os Refused basearam o seu set no seminal (fica sempre bem dizer isto dum álbum que criou um mito) The Shape of Punk to Come,
editado em 1998, ano de desmembramento da banda. Significa isto que a
maioria dos presentes em Algés estava pela primeira vez a dar encontrões
ao som de malhas tão subversivas como Liberation Frequency, New Noise ou Summer Holydays Vs. Punkroutine. A propósito desta última, em que se grita «Rather be forgotten than remembered for giving in», o vocalista Dennis Lyxzén (que partiu corações de machos e fêmeas) fala um pouco do (polémico) revival:
recorda o tempo em que eram uma banda punk insignificante, tocando em
casas okupadas e pequenos clubes, antes de apontar a ironia que os faz
percorrer grandes festivais quatorze anos após a separação. Opção sell-out?!
Eu não tenho nada contra, até agradeço a oportunidade de ficar com o
pescoço todo dorido. Mas também encontro a ironia de que ele fala ao ver
hipsters que desprezam o hardcore e qualquer ideologia
revolucionária abanarem as ancas ao som de músicas tão extremas, tanto
lírica como musicalmente. Como ouviria mais tarde, da boca dum tipo com
aversão a fotografias, «eles eram uma banda de hardcore normal,
depois lembraram-se de fazer um disco incrível que mistura HC com
techno, free jazz e spoken word – e são a melhor banda do mundo!».
Parte disto pode ser discutível, mas uma coisa é certa: os suecos deram o
melhor concerto do dia inaugural desta edição do Alive. Pena o som ter
estado um pouco baixo e terem actuado no palco principal e não no
contexto mais acolhedor da Heineken. Os concertos de HC pedem uma maior
proximidade entre as bandas e o público, certo?
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Link para a reportagem integral (em parceria com o Paulo Cecílio) e fotogaleria do Mauro Mota, publicadas originalmente no Bodyspace.
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