O Diabo Virou! a página durante a criação deste Roque Popular.
Ainda há ecos de fachadismo ao longo das dez faixas, é certo, mas a
toada tornou-se mais intensa e trepidante. Para o comprovar, temos logo
uma “Bomba Canção” na abertura e outros temas, como “Baile na Eira”, que
fazem da energia uma arma de arremesso implacável. Mas o que torna este
disco fascinante é o facto de formar um todo ultra-coeso por via de
canções com força (as referidas atrás), lirismo (“Luzia”, “Fronteira” ou
“Memorial dos Impotentes” servem de contra-peso perfeito) e apelo
dançante – como é que “Chegaram os Santos” ainda não se tornou o hino
oficial das festas populares?! E o cimento que conduz a este sentido de
unidade estética vem de uma alquimia rara: às letras e instrumentais
certeiros junta-se o cruzamento de linguagens tradicionais e
contemporâneas, rurais e urbanas, sejam elas musicais ou orais. Siga a
rusga, meus senhores!
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3º - Pega Monstro - Pega Monstro
As Pega Monstro já são muito mais do que mero tópico lol-fi e
comprovam-no com este disco homónimo. Têm a atitude punk certa ("eu sou
merda mas gostas de mim") e com pouco (voz, guitarra, bateria) atiram ao
tapete bandas com mais elementos e instrumentos do que boas ideias. E
que, por isso, não fazem grandes malhas como estas. Doze faixas, quase
como se este número pré-adolescente fosse uma metáfora para o que
afirmam em “Carocho” (do ”não quero ir à escola” ao ”hoje em dia tudo
faz tão mal / não comas peixe nem carne nem vegetal”), “Dom Docas” – é
escusado repetir um dos refrões de 2012 – ou “Afta”. Mas as manas Reis
já não têm dentinhos de leite. Desde que as vi tocar pela primeira vez, a
abrirem para Glockenwise no Music Box, deram um salto tão grande que
não sei onde vão parar. Músicas como “Akon” ou “Suggah” relembram-nos do
que são capazes bandas que fazem dos três acordes uma espécie de Pai,
Filho e Espírito Santo da música. O nosso Aleluia não chega para lhes
agradecermos isso.
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