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Minor ThreatOut Of Step (1983)
Dischord
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Só se nos mudarmos a nós próprios podemos operar alguma mudança no mundo. Já Lao
Tsé (Confúcio para os ocidentais) ensinava que o guerreiro mais forte é o que se
conquista a si mesmo. E Out Of Step demonstra que cada um tem a
capacidade de ser o seu próprio mestre, dominando vícios ou perniciosas
influências. O primeiro passo para que tal aconteça é começarmos a pensar pela
nossa cabeça, mesmo que isso nos transforme em ovelhas tresmalhadas, Out Of
Step com o mundo, como o título deste disco e a música sugerem. Ao niilismo
punk, o hardcore straight edge criado por Ian MacKaye e cia.
contrapõe uma mensagem positiva mas igualmente crua e acutilante. No seu único
LP (tal como na restante discografia esparsa) destilaram doses iguais de fúria e
auto-consciência, através de malhas rápidas e pungentes, por vezes entrecortadas
por pausas de tirar o fôlego, em que abordam relações pessoais - como em
“Betray” ou “Look Back And Laugh” -, avisam cerra os dentes, não te lamentes (“Sob Story”) ou acabam a puxar da mais fina ironia, na portentosa “Cashing
In”. Mais do que exporem uma cartilha de regras, lembram que a revolução se faz
de dentro para fora.
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Marvin GayeWhat's Going On (1971)
Motown
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Não, ninguém se esqueceu de pôr ali um ponto de interrogação. What's Going
On é uma crónica íntima dum tempo e dum lugar: os EUA no início dos anos 70,
com uma guerra no horizonte e o movimento dos direitos civis, entre outras
convulsões sociais, entre-portas. Marvin Gaye não ficou indiferente às cartas
que o irmão Frankie lhe enviava do Vietname nem à situação interna do seu país,
factores que o fizeram reavaliar o que pretendia transmitir com a sua arte. E
neste disco dirige-se como um despertador de consciências à sua geração,
interpelando-a a agir para a mudança na faixa-título que abre o disco ("you
see war is not the answer / for only love can conquer hate / you know we've got
to find a way / to bring some lovin' here today") e abordando uma série de
assuntos tão prementes quanto incómodos. Dos problemas ambientais de "Mercy
Mercy Me (The Ecology)" à toxicodependência (em "Flyin' High") ou ao desemprego,
uma das maiores vozes da soul pinta um quadro negro sobre a terra dos sonhos. E
fá-lo com apurada sensibilidade pop, em malhas de groove influenciado
pelo jazz e pelo funk, tecidas por orquestrações clássicas. O resultado final:
uma obra-prima incontornável. Nem sempre o casamento é feliz quando a arte se
debruça sobre as transformações sociais e políticas, mas esta musica é universal
e intemporal, fazendo hoje tanto sentido (e soando tão bem) quanto há 40 anos
atrás.
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Link para o artigo colectivo integral, publicado originalmenteno Bodyspace.
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